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"Virar de página" sem interrupções, precisa-se!
A opinião de Luís Miguel Ribeiro no Dinheiro Vivo

Na sua mais recente coluna de opinião no Dinheiro Vivo, o presidente da AEP aborda o aumento dos custos de produção e de comercialização que as empresas enfrentam, decorrentes do preço dos combustíveis e do preço e escassez de matérias-primas industriais, neste "virar de página” dos nocivos efeitos provocados pela pandemia. 

No que diz respeito ao preço dos combustíveis, Luís Miguel Ribeiro considera que "as empresas têm de ser apoiadas" até se alcançar a transição energética, defendendo também a substituição do modo de transporte das mercadorias do rodoviário para o ferroviário. Quanto ao elevado preço e escassez de matérias-primas industriais, o presidente da AEP reafirma "a rápida e urgente necessidade de um programa estratégico para a valorização da indústria portuguesa" que permita reduzir  as importações através da produção nacional.

Leia a coluna na íntegra:


"Virar de página" sem interrupções, precisa-se!

Numa altura em que as empresas começam a visualizar um “virar de página” dos nocivos efeitos provocados pela pandemia, surgem outros obstáculos, embora de natureza completamente distinta, que têm também fortes implicações na viabilidade, na sustentabilidade dos negócios e na recuperação da atividade económica.

Refiro-me ao aumento muito significativo dos custos de produção e de comercialização que enfrentam, decorrentes do preço dos combustíveis e do preço (e escassez) de diversas matérias-primas industriais.

Devemos olhar com enorme preocupação para qualquer um destes problemas. Apesar de constituírem variáveis exógenas, pois em ambos os casos o nosso país está fortemente dependente do exterior, importa uma atuação atempada naquilo que está ao nosso alcance.

Nos combustíveis, sabemos que o preço está alinhado com a evolução do preço do petróleo Brent – que é já superior ao valor registado pré-pandemia. Também sabemos, que o preço dos combustíveis em Portugal é fortemente agravado pelo excessivo peso da componente da fiscalidade, que representa, em média, mais de metade do preço final. É aqui que devemos atuar, sem querer com isso deixar de defender a descarbonização da economia. Até se alcançar a transição energética vai demorar algum tempo e as empresas têm de ser apoiadas. A menor dependência de combustíveis fósseis deve passar, também, pela substituição do modo de transporte das mercadorias – do rodoviário para o ferroviário. Para isso, as empresas precisam de uma ferrovia competitiva, operacional e sustentável. Cerca de 60% do valor das nossas exportações de bens é feito pela rodovia, sendo apenas 1% pela ferrovia. 

Quanto ao elevado preço (e escassez) de diversas matérias-primas industriais, reafirmo a rápida e urgente necessidade de um programa estratégico para a valorização da indústria portuguesa. Reindustrializar hoje não é apenas a manufatura, mas sim a produção de todos os bens e serviços transacionáveis que conseguimos não só exportar, mas em que também conseguimos reduzir em mercado aberto e concorrencial as importações através da produção nacional.

Sem uma indústria forte (e sem serviços a ela ligados), a economia perde a sua capacidade de inovar, gerar valor acrescentado e de criar e reter empregos qualificados.

Não podemos consentir qualquer interrupção deste importante “virar de página”.

 
Luís Miguel Ribeiro, presidente da Associação Empresarial de Portugal
In Dinheiro Vivo 29.05.2021