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Um ano de choques a afetar a atividade empresarial
A opinião de Luís Miguel Ribeiro no Dinheiro Vivo

O presidente da AEP dedica a sua mais recente coluna de opinião no Dinheiro Vivo a uma reflexão sobre um ano em que, na sequência do início da guerra da Ucrânia, a atividade empresarial foi afetada por uma série de choques sucessivos, nomeadamente a inflação, o aumento dos custos de energia, do transporte, da logística e do financiamento, a falta de matérias-primas e produtos intermédios, a redução da intenção e capacidade de investimento, o aumento dos riscos de incobráveis e a redução da procura interna e externa, a que se junta a falta de mão-de-obra.

Para Luís Miguel Ribeiro, "na estratégia para o país crescer e ter maior robustez e resiliência a choques está o necessário estímulo e reforço do investimento, sobretudo privado, e das exportações líquidas de importações, o que remete para uma forte aposta de Portugal, e da Europa como um todo, na valorização da indústria".

Leia a coluna na íntegra:


Um ano de choques …

No dia 24 fará um ano que se iniciou a guerra na Ucrânia, afetando vincadamente a atividade empresarial. Os resultados de um inquérito realizado pela AEP em janeiro aos seus associados sistematizam praticamente todos os impactos diretos da guerra: a inflação, o aumento dos custos de energia, do transporte, da logística e do financiamento (face à subida das taxas de juro), a falta de disponibilidade de matérias-primas e produtos intermédios, a redução da intenção e capacidade de investimento, o aumento dos riscos de incobráveis e a redução da procura interna e externa.

A estes, juntam-se outros fatores de cariz mais estrutural, já sentidos antes do eclodir do conflito militar. É o caso da falta de mão-de-obra. Nas perspetivas das empresas para 2023, confrontando o que estão a sentir neste início do ano e o que preveem no final do ano, a maior preocupação está na contratação de mão de obra qualificada, onde percecionam um maior agravamento. Este sério problema, apesar da elevada taxa de desemprego jovem, é um paradoxo denunciador da necessária (re)qualificação dos ativos, como sublinhei no meu último artigo. 

Ainda em termos de impactos da guerra, importa destacar o choque que provocou sobre os termos de troca no comércio internacional de bens (preço das importações superior ao das exportações), traduzindo uma transferência de rendimento real da economia portuguesa para o exterior, algo com que nos devemos preocupar. Segundo o INE, em 2022 observámos o maior défice comercial desde que há registos (ultrapassou os 30 mil milhões de euros) e a menor taxa de cobertura desde 2011.

Na estratégia para o país crescer e ter maior robustez e resiliência a choques está o necessário estímulo e reforço do investimento, sobretudo privado, e das exportações líquidas de importações, o que remete para uma forte aposta de Portugal, e da Europa como um todo, na valorização da indústria. A Ocidente e a Oriente esse foco é já bem visível, com os Estados Unidos e a China a injetarem montantes massivos para apoiar as suas economias. 

Por cá, os fundos europeus são uma alavanca. O Plano Industrial do Pacto Ecológico, destinado a reforçar a competitividade da indústria europeia com zero emissões líquidas e apoiar a rápida transição para a neutralidade climática, é positivo. Contudo, como pudemos constatar no período da pandemia, nem todos os Estados-membros terão capacidade (ou vontade) orçamental para apoiar as respetivas economias. Será um risco?

Luís Miguel Ribeiro, presidente da Associação Empresarial de Portugal
In Dinheiro Vivo 18.02.2023