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Recuperação ainda com pouca luz ao fundo do túnel
A opinião do presidente da AEP, Luís Miguel Ribeiro, no Dinheiro Vivo
Se a chegada da tão antecipada vacina faz acender a esperança no combate à pandemia, no plano da recuperação económica a luz continua demasiado ténue, num túnel que ainda se prolongará por meses. “Muitas empresas continuam a reportar quebras significativas no seu volume de faturação, com perspetiva de reduções superiores a 25% no primeiro trimestre de 2021”, relembra Luís Miguel Ribeiro, presidente da AEP, na sua coluna de opinião quinzenal no jornal Dinheiro Vivo:
Recuperação ainda com pouca luz ao fundo do túnel
Alguns países iniciaram esta semana o seu processo de vacinação contra a covid-19. Em Portugal, a expectativa é a de que a administração da vacina venha a ser disponibilizada no início do próximo ano.
Estaremos agora mais próximos de ver a luz ao fundo do túnel. Bem precisamos! O combate à covid-19 é o caminho para repor a confiança dos agentes económicos, que é essencial para um processo de recuperação económica e social rápido, robusto e duradouro.
Neste momento, as expectativas quanto à recuperação da nossa economia mantêm-se num limiar muitíssimo baixo. Muitas empresas continuam a reportar quebras significativas no seu volume de faturação, com perspetiva de reduções superiores a 25% no primeiro trimestre de 2021. Também ao nível do emprego, as empresas não perspetivam ter todos os seus trabalhadores a laborar no primeiro trimestre.
As perceções dos empresários são reveladoras da falta de confiança, com implicações nas intenções de investimento. Os indicadores de conjuntura evidenciam a continuação da retoma de atividade, mas a um ritmo inferior. Por outro lado, as mais recentes projeções da OCDE apontam para a quase estagnação do investimento, projetando uma variação de apenas 0.1% na FBCF, um péssimo sinal se atendermos à base de partida substancialmente baixa (quebra esperada de -4.2%, em 2020).
Em termos de crescimento económico, a OCDE prevê uma recuperação apenas muito ligeira para Portugal nos próximos dois anos (+1.7% em 2021 e +1.9% em 2022), ou seja, quase metade da média dos países da OCDE e muito abaixo das projeções do Governo e de outros organismos, onde os valores andam à volta de 5%. Em 2022 o PIB português estará ainda muito aquém do nível pré-crise.
Na perspetiva da baixa recuperação, a OCDE assinala o elevado peso do turismo no país, cuja boa evolução dependerá da efetivação da vacina. É por isso que o início da administração da vacina será também um "dia V" para Portugal. Sabemos que será um processo longo, até à imunização de uma fatia considerável da população.
Pelo que importa reter os alertas da OCDE de que o Governo deve garantir a retirada progressiva das medidas de apoio somente quando a recuperação estiver bem encaminhada. É preciso, tal como a Organização refere, assegurar a manutenção da capacidade produtiva, o apoio à capitalização e a aposta na formação ao longo da vida, sob pena da recuperação ser ainda mais lenta.
Luís Miguel Ribeiro, presidente da Associação Empresarial de Portugal
In Dinheiro Vivo 12.12.2020
Recuperação ainda com pouca luz ao fundo do túnel
Alguns países iniciaram esta semana o seu processo de vacinação contra a covid-19. Em Portugal, a expectativa é a de que a administração da vacina venha a ser disponibilizada no início do próximo ano.
Estaremos agora mais próximos de ver a luz ao fundo do túnel. Bem precisamos! O combate à covid-19 é o caminho para repor a confiança dos agentes económicos, que é essencial para um processo de recuperação económica e social rápido, robusto e duradouro.
Neste momento, as expectativas quanto à recuperação da nossa economia mantêm-se num limiar muitíssimo baixo. Muitas empresas continuam a reportar quebras significativas no seu volume de faturação, com perspetiva de reduções superiores a 25% no primeiro trimestre de 2021. Também ao nível do emprego, as empresas não perspetivam ter todos os seus trabalhadores a laborar no primeiro trimestre.
As perceções dos empresários são reveladoras da falta de confiança, com implicações nas intenções de investimento. Os indicadores de conjuntura evidenciam a continuação da retoma de atividade, mas a um ritmo inferior. Por outro lado, as mais recentes projeções da OCDE apontam para a quase estagnação do investimento, projetando uma variação de apenas 0.1% na FBCF, um péssimo sinal se atendermos à base de partida substancialmente baixa (quebra esperada de -4.2%, em 2020).
Em termos de crescimento económico, a OCDE prevê uma recuperação apenas muito ligeira para Portugal nos próximos dois anos (+1.7% em 2021 e +1.9% em 2022), ou seja, quase metade da média dos países da OCDE e muito abaixo das projeções do Governo e de outros organismos, onde os valores andam à volta de 5%. Em 2022 o PIB português estará ainda muito aquém do nível pré-crise.
Na perspetiva da baixa recuperação, a OCDE assinala o elevado peso do turismo no país, cuja boa evolução dependerá da efetivação da vacina. É por isso que o início da administração da vacina será também um "dia V" para Portugal. Sabemos que será um processo longo, até à imunização de uma fatia considerável da população.
Pelo que importa reter os alertas da OCDE de que o Governo deve garantir a retirada progressiva das medidas de apoio somente quando a recuperação estiver bem encaminhada. É preciso, tal como a Organização refere, assegurar a manutenção da capacidade produtiva, o apoio à capitalização e a aposta na formação ao longo da vida, sob pena da recuperação ser ainda mais lenta.
Luís Miguel Ribeiro, presidente da Associação Empresarial de Portugal
In Dinheiro Vivo 12.12.2020