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Políticas da Grécia começam a ter resultados
O país apresenta melhor desempenho relativo até 2023

O mais recente Relatório de Coesão, relativo à década anterior, mostra bons resultados da política de coesão na convergência das regiões do leste europeu, mas uma estagnação nas do sul da europa − incluindo em Portugal −, presas numa "armadilha de desenvolvimento", com longos períodos de baixo crescimento da produtividade e do emprego e insuficiências em fatores críticos como a inovação e as qualificações, também fundamentais para enfrentar os desafios da atual década, com realce para as transições digital, climática e demográfica.

A pandemia veio colocar problemas acrescidos aos países do sul da Europa − mais dependentes do turismo − neste início de década, mas a qualidade das políticas públicas é decisiva e parece já estar a estabelecer diferenças de desempenho significativas.

As previsões de inverno da Comissão Europeia, divulgadas em fevereiro, não obstante uma ligeira melhoria dos valores de crescimento económico de Portugal (4,9% em 2021, 5,5% em 2022 e 2,6% em 2023, mais 0,4 p.p., 0,2 p.p. e 0,2 p.p. que nas previsões de novembro) colocam o nosso país com o terceiro pior registo de crescimento acumulado de 2020 até 2023 (4,0%), apenas acima de Espanha e Itália (3,3% nos dois casos), já com efeitos dos planos de recuperação europeus. A Grécia aparece com um desempenho acumulado bem superior (7,2%, na 15ª posição), depois da segunda maior contração do PIB em 2020 (-9,0%), acima da observada em Portugal (-8,4%) e apenas inferior à de Espanha (-10,8%). 

O melhor desempenho relativo da Grécia até 2023, face a outras economias do sul como Portugal, parece resultar de políticas públicas mais adequadas aos desafios mais recentes. 
Segundo dados do FMI, a Grécia é o país da UE com o maior nível de apoios a fundo perdido à economia durante a pandemia (16,7% do PIB, de jan-20 a set-21), precisamente os mais efetivos, enquanto Portugal tem o décimo pior registo (4,9% do PIB), tendo priorizado os empréstimos com garantia de Estado (5,7% do PIB, o nono maior valor na UE), que endividam ainda mais as empresas, uma estratégia que a AEP considerou errada. De notar que o rácio de dívida pública da Grécia é ainda maior que o de Portugal, tendo apostado numa estratégia de desendividamento por via do crescimento económico, ao considerar os apoios a fundo perdido na pandemia como um investimento, tal como a AEP defendeu para Portugal.

Por outro lado, de acordo com a informação disponível, o Plano de Recuperação da Grécia investe, desde já, na reindustrialização − que a AEP considera crucial para o nosso País, tendo apresentado o Programa Portugal Industrial i5.0 nesse sentido −, contrariamente ao PRR de Portugal, que alocou uma parcela direta pouco significativa às empresas (cerca de 1/3, cabendo o resto ao Estado). Para compensar, mas de forma errada, foi prometido o recurso a empréstimos − endividando ainda mais o País − para satisfazer uma eventual procura acima do esperado nas Agendas Mobilizadoras e Verdes para a Inovação Empresarial, tendo-se já verificado que a dotação a fundo perdido era muito insuficiente.

A Grécia parece, assim, mais bem preparada para um novo choque, este geopolítico, devido à tensão militar entre Rússia e Ucrânia, com um impacto negativo de dimensão ainda incerta.

Variação acumulada do PIB de 2020 a 2023 nos países da UE (%)

Fonte: Comissão Europeia, Previsões de Inverno (Fev-22