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PIB em nível pré-crise em 2022, mas numa trajetória pior
BdP melhora projeções de crescimento, mas economia não recupera o suficiente

No Boletim Económico de junho, o Banco de Portugal (BdP) melhorou as projeções de crescimento do PIB para 4,8% em 2021 (+0,9 p.p. que em março) e 5,6% em 2022 (+0,4 p.p.) –  os números mais otimistas até agora –,  mantendo a estimativa de 2023 em 2,4%.

Segundo o BdP, “a recuperação é rápida por comparação com anteriores episódios recessivos. A natureza exógena do choque, a transmissão limitada ao sistema financeiro e a resposta tempestiva da política orçamental e monetária favorecem o regresso do PIB aos níveis do final de 2019, o que deverá acontecer no início de 2022. No entanto, o choque deverá ter efeitos duradouros em alguns segmentos da economia mais afetados (…). A atividade não recupera até 2023 o nível de atividade projetado para esse ano antes da ocorrência da pandemia, embora a perda estimada seja contida” (2% - ver gráfico). 

Isto porque “a despesa global direcionada para serviços não recupera o nível projetado antes da crise” – nomeadamente devido às piores perspetivas para o turismo – e “a recuperação mais forte da indústria e da construção não é suficiente para compensar a retoma gradual e incompleta dos serviços”.

Em contabilidade do crescimento, “o PIB fica aquém do projetado antes da crise devido à recuperação incompleta das horas trabalhadas” – “as atividades mais afetadas pela crise são intensivas em mão-de-obra, colocando-se desafios à sua realocação” – “e da produtividade total de fatores” (PTF).

A crise pandémica penalizou a PTF devido à “interrupção da acumulação de fatores produtivos, incluindo capital humano, e à redução da eficiência na utilização dos mesmos”, ainda que “o estímulo dado pela pandemia à utilização das tecnologias digitais e à inovação” possa “mitigar o impacto negativo (…), mas é de difícil quantificação nesta fase”.

Por outro lado, “o contributo da acumulação de capital físico para a diferença do PIB entre a projeção atual e a anterior à pandemia é pouco significativa” em face da “resiliência do investimento na crise atual e a manutenção de perspetivas favoráveis alicerçadas no recebimento de fundos europeus”.

A análise do BdP evidencia a importância crucial das empresas para o PIB alcançar o mais rápido possível uma trajetória superior à pré-crise, o que exigirá um afluxo rápido dos fundos europeus disponíveis, cujas regras de acesso ainda são desconhecidas.