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Os custos de produção e a inflação
A opinião de Luís Miguel Ribeiro no Dinheiro Vivo

"Nesta escalada sem fim à vista, mantém-se o fosso entre a subida de preços no produtor e no consumidor".  O presidente da AEP, Luís Miguel Ribeiro, dedica a sua mais recente coluna de opinião no Dinheiro Vivo aos efeitos da escalada da inflação nos custos de produção, com as empresas a continuarem a "acomodar parte do aumento dos custos de produção, não os refletindo na totalidade do preço final".

Leia a coluna:


Os custos de produção e a inflação

A escalada da inflação está a produzir um choque sobre as empresas – com o aumento dos custos de produção - e sobre as famílias, com a perda de poder de compra.

Nesta escalada sem fim à vista, mantém-se o fosso entre a subida de preços no produtor e no consumidor. Pese embora o abrandamento no primeiro caso e a aceleração no segundo e salvaguardando as próprias discrepâncias dentro de cada índice (por agrupamento industrial e por objetivo de consumo), a verdade é que em setembro, em termos globais, a taxa de variação homóloga do Índice de Preços na Produção Industrial continuou a ser mais do dobro da variação do Índice de Preços no Consumidor (19,6% face a 9,3%).

Apesar de todos sentirmos a subida de preços, é bem visível que as empresas continuam a acomodar parte do aumento dos custos de produção, não os refletindo na totalidade do preço final. É uma situação que continua a esmagar as margens em diversos setores, sobretudo na indústria transformadora, muito exposta à concorrência e com maior peso no consumo de energia. Uma situação insustentável, que coloca muitas empresas em risco de sobrevivência.

Os resultados do inquérito da AEP, de setembro, sobre o impacto dos custos de energia nas empresas dão conta que a redução da atividade é uma das alternativas prováveis como resposta ao aumento dos custos de produção. Perto de um quinto das empresas aponta o recurso ao lay-off ou ainda o encerramento parcial de unidades de produção. 

Os dados oficiais também parecem apontar nesse sentido. De acordo com o INE, a subida homóloga de 5,7% do Índice de Custo do Trabalho no segundo trimestre resultou do efeito conjugado do acréscimo de 4% no custo médio por trabalhador e do decréscimo de 1,5% no número de horas efetivamente trabalhadas por trabalhador. O número de horas trabalhadas registou decréscimos em todas as atividades económicas (à exceção dos serviços, onde a variação foi nula), com a indústria a observar a queda mais acentuada (-2,6%), claramente acima da média. 

Não há detalhe disponível por subsetores da indústria neste indicador, mas estes dados reclamam a urgência de medidas a nível nacional (e europeu) que possam mitigar o aumento dos custos de produção no tecido empresarial. 

Numa altura em que está em discussão o Orçamento do Estado para 2023 esta situação requer especial atenção.

 
Luís Miguel Ribeiro, presidente da Associação Empresarial de Portugal
In Dinheiro Vivo 29.10.2022