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O Orçamento que ninguém quis!

O presidente da AEP dedica a sua mais recente coluna de opinião no Dinheiro Vivo ao "Orçamento que ninguém quis", onde recorda ter defendido que "mais valia um mau Orçamento - que pudesse ser retificado, assim houvesse vontade política para o fazer - do que um adiar até abril.

Para Luís Miguel Ribeiro, a não aprovação da proposta do Orçamento do Estado para 2022 cria uma instabilidade política no país, com consequências para a economia e para as empresas. "Num momento como este, tem de haver responsabilidade política e um enorme sentido de Estado", frisa. "O que o país menos precisa é de um clima de forte instabilidade política, pelos impactos negativos na imagem do país, na atratividade do investimento e na forma como os mercados financeiros olham par nós", remata.

Leia a coluna na íntegra:


O Orçamento que ninguém quis!

Com exceção de quem o propôs, ninguém quis este Orçamento. Também a AEP, na análise que fez, alertou para o facto de ser um Orçamento sem foco no apoio ao potencial produtivo, condição essencial para se alcançar uma recuperação económica forte e sustentada e, com isso, atender às preocupações sociais sem hipotecar o futuro. Ainda assim, sublinhei que mais valia um mau Orçamento - que pudesse ser retificado, assim houvesse vontade política para o fazer - do que um adiar até abril.

A não aprovação da proposta do Orçamento do Estado para 2022 cria uma instabilidade política no país, com consequências para a economia e para as empresas.

É preciso enquadrar o momento em que este orçamento é chumbado. Surge numa altura em que as empresas estão a tentar, com enorme esforço, recuperar dos impactos fortemente negativos da crise pandémica e em que voltam a enfrentar uma série de constrangimentos que podem colocar em causa a sua viabilidade no mercado.

Estamos a assistir a uma combinação explosiva de acontecimentos simultâneos e interligados, uma verdadeira “tempestade perfeita”. Aos aumentos, já de si elevados dos preços da energia, somam-se a escassez e o aumento dos preços de várias matérias-primas, desde os metais ao algodão, entre outras, que com maior ou menor intensidade estão a afetar praticamente todas as fileiras. Acrescem ainda as dificuldades no transporte marítimo, com a falta de contentores a provocar grandes atrasos nas encomendas e a elevar de forma completamente anormal os preços do transporte nos fluxos do comércio internacional. 

Muitas empresas já não terão margem para absorver tão relevantes impactos, pelo que serão obrigadas a repercutir no preço final do produto – é uma inevitabilidade. Apesar da potencial perda de alguns clientes, a alternativa seria encaixar prejuízos que poria em causa a sua viabilidade.

Seguramente, este é um momento que exige a tomada de um conjunto de medidas de Políticas Públicas de apoio à economia e ao tecido empresarial, que este Orçamento não contemplava. Repito, não era um bom orçamento e caminhava para ser ainda pior com as exigências que se perspetivavam.

Mas, num momento como este, tem de haver responsabilidade política e um enorme sentido de Estado. O que o país menos precisa é de um clima de forte instabilidade política, pelos impactos negativos na imagem do país, na atratividade do investimento e na forma como os mercados financeiros olham par nós.

 
Luís Miguel Ribeiro, presidente da Associação Empresarial de Portugal
In Dinheiro Vivo 30.10.2021