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Há oportunidades de crescer no mercado do luxo
Um artigo de António Braz Costa na revista BOW 28

O Luxo e a internacionalização

Ao falar-se de luxo, o mais natural é pensar-se imediatamente em moda; falar de moda produzida em Portugal é o mesmo que falar de internacionalização.

Sendo o produto têxtil uma parte muito relevante das variadas vertentes da moda e o luxo remeter para níveis de sofisticação e de especificação muito elevados, seria de prever que a ITV portuguesa, mais tarde ou mais cedo, se interessaria e teria condições de discutir um lugar importante da cadeia deste negócio movido pelo glamour.

Contudo, sempre se tratou de uma cadeia muito exclusiva e controlada por marcas, e talvez por isso, protetora de alguns últimos redutos da têxtil dos países que dominam o negócio através das suas marcas. Foi, portanto, necessário que os astros se alinhassem para Portugal ver as portas abrirem-se:
  • Grandes alterações na geografia do consumo de luxo, com o despertar do ímpeto consumista de países emergentes;
  • Grandes alterações na geografia da capacidade de produção têxtil;
  • Grandes modificações nas exigências do mercado e dos reguladores em termos de sustentabilidade;
  • Franco desenvolvimento das capacidades da ITV portuguesa, numa fase inicial ao nível da qualidade, da flexibilidade e da resposta rápida, mas hoje marcada pela capacidade de desenvolvimento e inovação, e da preparação para atender aos mais exigentes ritmos de melhoria da sustentabilidade.

Portugal, em paralelo com as apostas feitas ao nível dos têxteis técnicos, foi ganhando espaço no luxo e hoje este segmento já constitui uma realidade expressiva, mas com oportunidades de crescimento assinaláveis, naturalmente acompanhadas de potenciais obstáculos, já que obviamente Portugal não está só nas ambições de ter esse lugar na produção de artigos de luxo.
  • A recente deslocalização do consumo de artigos de moda da Europa e Estados Unidos para regiões com forte crescimento do poder de aquisição, nomeadamente aqueles com importante operação têxtil e com ambições claras de evoluir fortemente em sofisticação e qualidade, serão constrangimentos. Por um lado, pela necessidade das marcas europeias e americanas de reduzirem a fatura da logística nos seus processos de descarbonização. Por outro, porque é já patente a dinâmica dos novos epicentros do consumo de luxo na criação das suas próprias marcas ou mesmo de aquisição e controlo de marcas inicialmente desenvolvidas no ocidente;
  • Apesar disso, a Europa constitui um mercado relevante e esse facto poderá ancorar em Portugal a produção de luxo, exatamente pelos mesmo motivos.

A busca da sustentabilidade, essa deverá ser a maior aliada da competitividade da ITV portuguesa no mercado do luxo:
  • Inicialmente, a França, e logo depois outros países e a própria União Europeia proibiram a destruição de stocks não vendidos, impulsionando as marcas de luxo a modificar o seu modelo de sourcing, tendo que adotar formas de redução de stocks e assim privilegiar países com inequívocas capacidades de resposta rápida na reposição destes;
  • As marcas de luxo, acompanhando as tendências de mercado para adotar maior responsabilidade na escolha de matérias-primas, procuram clusters industriais dinâmicos para lhes dar soluções eficazes e que não comprometam a qualidade dos seus produtos;
  • A crescente preocupação do luxo com o conforto, a segurança e funcionalidades especiais, procuram fazer o seu sourcing junto de clusters bem integrados com sistemas de ciência e tecnologia;
  • O posicionamento das marcas em relação à circularidade dos seus produtos vem obrigando-as a selecionar produtores que assumam a responsabilidade pelo fim de vida;
  • As marcas de luxo estão na dianteira da medição e redução dos efeitos colaterais da produção dos seus produtos, obrigando-se a procurar e a fazer exigências aos seus fornecedores ao nível da pegada carbónica dos processos produtivos.

Portugal tem sido early adopter de conhecimento e tecnologias o que lhe permite ter muito para oferecer neste contexto e, a cereja em cima do bolo, Portugal tem uma fortíssima cultura têxtil e de moda, uma sensibilidade especial para a perfeição.

A transição de portefólio acompanhará a dupla transição, permitindo-nos antever um percurso no mundo da moda promissor para a ITV portuguesa, assim saibamos manter a velocidade de desenvolvimento e implementação de soluções que caracterizou os últimos anos.
 
António Braz Costa, Diretor-geral do CITEVE - Centro Tecnológico Têxtil e Vestuário
In Revista BOW 28 - A Indústria do Luxo e a Internacionalização

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