Envolvente Empresarial - Newsletter

Newsletter Envolvente Empresarial - março 2022

Newsletter Envolvente Empresarial - março 2022

A Envolvente Empresarial de março evidencia níveis históricos da inflação homóloga no consumidor (5,3% em março, nos dados mais recentes do INE do Índice de Preços no Consumidor, o valor mais alto desde 1994), devido ao forte agravamento dos custos de produção das empresas, que no caso da indústria transformadora é superior à média da UE (como se infere da subida homóloga de 16,2% do Índice de Preços na Produção em fevereiro, que compara com 13,5% na UE e 13,3% na Área Euro).

Para tal contribui a alta dos preços dos bens energéticos (com realce para o petróleo e o gás natural) e de um grande número de matérias-primas, a refletir a guerra na Europa, as perturbações nas cadeias de abastecimento globais ainda na sequência da pandemia e fatores mais persistentes como a imperativa transição energética, que eleva os preços dos combustíveis fósseis antes de permitir uma redução global dos preços da energia, quando a penetração das energias renováveis for maior. A isto acresce ainda, nomeadamente, o pagamento de créditos que ficaram em moratória durante a pandemia e a perspetiva de aumento das taxas de juro às empresas, numa altura em que começam a disparar nos mercados monetário e de dívida soberana, ante a expectativa de subida das taxas diretoras do BCE.  

Como a subida dos preços à saída de fábrica é muito mais forte que a inflação sentida pelo consumidor, tal significa que os produtores não estão a repassar todo o acréscimo de custos, reduzindo as suas margens, o que a prazo não é sustentável, exigindo medidas de mitigação para impedir falências – em particular na indústria transformadora, particularmente exposta à concorrência internacional, tendo mais dificuldade em repassar custos para os clientes –  e travar a subida de inflação, que mina o poder de compra e o consumo. 

Os recentes apoios mais incisivos do Governo para a redução de custos de energia e matérias-primas das empresas são positivos, mas tardios, insuficientes e apenas conjunturais (associados à situação de crise), faltando ainda medidas decisivas como as que a AEP tem proposto – como o retorno do lay-off simplificado e do banco de horas individual, a  suspensão do pagamento de moratórias, a reorientação do PRR para os setores mais afetados na atual crise e a redução permanente da fiscalidade sobre a energia, elevada no contexto europeu – para ajudar as empresas nesta difícil conjuntura e melhorar de forma mais duradoura a sua competitividade.

Ao mesmo tempo, o Programa do Governo, em vez de se focar no aumento da produtividade – onde a flexibilidade do trabalho é um dos aspetos a melhorar por Portugal em variados em rankings internacionais de competitividade, como o do World Economic Forum –, agrava fortemente a rigidez e os custos laborais com a Agenda do Trabalho Digno e outras propostas penalizadoras da competitividade, como  a subida do peso dos salários no PIB, que em 2021 estava acima da UE (37,9% vs. 37,8%, segundo o Eurostat, quase a meio da tabela, na 15ª posição em 27 países) e a discussão extemporânea da semana de trabalho de quatro dias. 

Resta esperar que o Governo não desperdice nos próximos anos a oportunidade única para aumentar a competitividade gerada pelo afluxo elevado e irrepetível de fundos europeus e pela estabilidade política necessária para fazer reformas cruciais no sentido de debelar fragilidades estruturais e eliminar custos de contexto penalizadores da atividade empresarial e da produtividade, incluindo uma carga fiscal excessiva face à capacidade contributiva do País (elevado esforço fiscal face à UE) e face à qualidade dos serviços públicos, que deve ser melhorada.

A “Envolvente Empresarial - Síntese de Conjuntura” é uma publicação mensal com os principais dados e indicadores relativos à atividade económica, desenvolvida conjuntamente pela AEP, AIP e CIP. Inclui duas separatas de indicadores, uma para Portugal e outra para a Área Euro.
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