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Há barreiras a superar no e-commerce internacional
Um artigo de Raul Magalhães na revista BOW 27


A Logística na Internacionalização via E-commerce

Num mercado com a dimensão de Portugal e com um padrão dominante de PME na sua economia, o crescimento terá de ser alcançado fundamentalmente pela via externa através de processos de internacionalização.

Mesmo antes da pandemia Covid-19, em muitos setores, PME de alta performance obtinham sucesso no mercado interno, mas o seu potencial de crescimento era limitado pela dimensão do mercado local.

De acordo com a McKinsey, na UE quase todas as pequenas empresas que têm vendas de comércio eletrónico (cerca de 20%), fazem-no dentro do seu país. Menos de metade dessas empresas – cerca de 8% do mercado total – vendem em outros países da UE. E apenas 4 por cento vendem para fora da UE!!

O e-commerce veio abrir um modelo novo de exposição instantânea ao mercado internacional e permitir que as empresas alcancem o objetivo extraordinário de expansão internacional a baixos custos. Este canal reforçou-se como opção, mesmo para as empresas mais pequenas, através da adesão às plataformas de mercados e logísticas prestadoras de serviço, que funcionam como facilitadores, tal como a “Amazon business and logistics”.

Contudo, ainda que se suponha que o e-commerce elimina todas as fronteiras nacionais, existem barreiras quer externas quer internas, que precisam ser superadas.

Com base num estudo feito pela UPS em 9 países, apesar das pequenas e médias empresas terem reportado que a exportação ficou mais fácil desde o início da pandemia, também relataram que os três principais desafios para as exportações através de comércio eletrónico foram:
  • Gestão de pagamentos eletrónicos e impostos cobrados de clientes internacionais;
  • Acesso a informações sobre mercados internacionais, conformidade comercial e requisitos alfandegários;
  • Eficiência no comércio internacional e na logística de expedição e devolução.

Iniciar um negócio eletrónico bem estruturado, implica desenvolver uma estratégia robusta, que de forma consciente identifique e caracterize os mercados, os segmentos e o posicionamento objetivo, além de desenvolver e/ou reforçar as capacidades internas necessárias.

Para quem se encontra em setores de bens físicos, não é suficiente fazer um bom marketing e capturar encomendas através de portais mais ou menos sofisticados, se não garantir a capacidade de assegurar as entregas (e as devoluções) com os padrões de exigência desses mercados.

Se na captura de encomendas e na entrega dos produtos alguns dos desafios podem ser superados pelo recurso ao outsourcing das plataformas de mercado e de serviços, a desintegração de informação e de sistemas, produz disrupções nos processos com implicações graves no nível de serviço.

É necessário garantir a integração deste canal com os canais físicos e de proximidade, no planeamento e na gestão de inventários para minimizar ruturas e potenciais atrasos.

Além disso, a capacidade para reagir a alterações de volumes exponenciados por mercados desconhecidos, implica a criação de competências de agilidade e de previsibilidade.

Lidar com maiores volumes, maior incerteza e cadeias mais longas, gera ineficiências graves nos processos, aumento dos inventários e dos tempos em processo e, consequentemente, do capital circulante necessário à operação.

No que respeita ao fornecimento, torna-se necessário que a rede de fornecedores e respetivas capacidades de produção/ transformação tenham a capacidade de resposta eficiente à procura e à sua variação que o novo canal pode trazer.

Assim, quase todos os estudos são unânimes em concluir que o apoio às pequenas e médias empresas se torna fundamental, para capitalizar as oportunidades que surgem dos crescentes mercados de comércio eletrónico, sob o risco de se cavar cada vez mais o fosso entre as PME e as grandes empresas, nomeadamente com a digitalização.

Esses apoios devem passar pelo desenvolvimento de capacidades e infraestruturas digitais nas empresas, suporte no aumento da resiliência da cadeia de abastecimento com formação e investimento na automação, facilidade no acesso à informação para exportação, maior acessibilidade a mecanismos de financiamento, simplificação de processos comerciais internacionais e criação de mecanismos estruturais de gestão de dados e de cibersegurança.

O papel das Associações Empresariais torna-se assim relevante para suporte, enquadramento e potenciação das iniciativas das PME nesta vertente de internacionalização, contribuindo em paralelo para a modernização dos seus processos, capacitação dos seus recursos e uma mais clara e adequada definição estratégica dos seus objetivos.

Esse tem sido e estou certo continuará a ser o papel da AEP, para o qual poderá contar sempre com a colaboração da Associação Portuguesa de Logística - APLOG.

Raul Magalhães, Presidente da APLOG - Associação Portuguesa de Logística
In Revista BOW, n.º 27 - Logística, Cadeia de Abastecimento, E-Commerce e Internacionalização

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