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Contrariar o risco de “geo-estagflação”
Envolvente Empresarial destaca níveis de sentimento económico já em queda

A Envolvente Empresarial - Síntese de Conjuntura de fevereiro - da responsabilidade conjunta AEP/AIP/CIP - permite destacar um andamento globalmente positivo da atividade económica no início de 2022, mas com os níveis de sentimento económico já em queda, tanto em Portugal como no resto da Europa. 

Os próximos números de confiança económica deverão registar uma descida muito agravada em face da intervenção militar da Rússia na Ucrânia e das sanções económicas do Ocidente ao regime de Putin, que afetarão também as economias ocidentais e a economia global. 

O Governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, afirmou, entretanto, estar “convencido de que a tração de crescimento (...) irá prevalecer” na área euro, mas “um cenário próximo da estagflação não está fora das possibilidades", com o impacto a depender da duração do conflito. Centeno defende ainda que a normalização prevista da política monetária deverá prosseguir, não podendo estar "indexada às tensões geopolíticas", embora admita que o conflito possa exigir adaptações à forma como essa normalização irá decorrer.

Um cenário de estagflação − inflação elevada e baixo crescimento económico ou mesmo recessão, como nos choques petrolíferos das décadas de 1970 e 1980 − não está descartado para a área euro, embora não seja o cenário base, é também uma possibilidade para Portugal, atendendo à forte dependência do mercado europeu. 

A inflação já está a instalar-se também por cá. A taxa de inflação homóloga de Portugal (medida pelo IHPC) atingiu um máximo desde 2012 em janeiro (3,4%) e deverá continuar a subir, não sendo ainda tão alta como a registada na área euro (5,8% em fevereiro, o máximo da série iniciada em 1997) ou, em particular, nos EUA (7,5% em janeiro, o valor mais alto desde 1982, por altura de um choque petrolífero).

Ao nível do PIB, a previsão mais recente da Comissão Europeia, datada de 10 de fevereiro, pouco antes da eclosão do conflito militar, é de um crescimento de 5,5% em Portugal. Parece difícil imaginar que esse cenário se transforme em recessão, mas é possível se houver uma retração forte da confiança e do consumo e uma reduzida aplicação dos fundos europeus (resto do Portugal 2020 e PRR, não havendo ainda perspetiva de quando poderá arrancar o Portugal 2030), que deverão, no atual contexto, ser reorientados para as empresas e a sua competitividade, incluindo a mitigação dos acréscimos exponenciais de custos da energia.

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