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Atrair investimento para a indústria

O Banco de Portugal divulgou, na semana passada, as estatísticas sobre o investimento direto, quer do exterior em Portugal (IDE) quer de Portugal no exterior (IPE).

Centremo-nos no stock do IDE, vulgo investimento direto estrangeiro. É verdade que, em vários indicadores económicos, estamos “habituados” a ver o nosso país a comparar mal com a média da União Europeia e da OCDE. Não é, porém, o que sucede com este indicador. Mas, nem tudo está bem!

O stock do investimento direto estrangeiro em Portugal ascendia, no final do ano passado, a 69% do PIB, face a 32% em 2008. Portugal não só está acima da média da União Europeia (64%) e da média da OCDE (53%), como apresenta uma dinâmica comparativa superior ao longo deste período de pouco mais de década e meia. Na comparação internacional com os 27 países da OCDE analisados, em que há dados disponíveis, Portugal evidencia um dos rácios mais elevados, ocupando a sexta posição, a seguir a Luxemburgo, Países Baixos, Suíça, Estónia e Bélgica.

Na estrutura do stock do IDE por setores de atividade, o nosso país também compara bem em algumas áreas, nomeadamente, no peso do setor dos serviços não financeiros (45%) – surgindo na primeira metade da tabela – bem como no setor da eletricidade, gás e água – com o segundo valor mais elevado (a seguir a Espanha). De forma inversa, Portugal apresenta um dos valores mais baixos do IDE no setor da indústria (9%) – o terceiro mais baixo. Ora, este baixo peso na indústria suscita preocupação, se atendermos ao importante papel do setor industrial, num contexto vincado, entre outros fatores, por tensões geopolíticas e aceleradas transformações tecnológicas.

Reforçar a atratividade de capitais, nacionais e estrangeiros, para a indústria é absolutamente crítico, por forma a se alcançar uma robusta e sustentada trajetória de crescimento e desenvolvimento socioeconómico. A indústria induz um efeito de arrastamento na produção e no emprego de distintos setores, a montante e a jusante, contribui para a absorção de emprego qualificado e tem a capacidade de dinamizar um estreito diálogo com o Sistema Científico e Tecnológico. Com tudo isto, promove níveis de produtividade e de competitividade mais elevados. A indústria é também um relevante setor de bens transacionáveis internacionalmente, contribuindo para sustentar os ambicionados acréscimos da intensidade exportadora. [Já agora, é preciso perceber as razões da diminuição das exportações de serviços no segundo trimestre do ano, segundo os dados das Contas Nacionais Trimestrais do INE, também divulgados na passada semana. A última vez que Portugal registou uma diminuição foi há dezassete trimestres, ou seja, no primeiro trimestre de 2021, sob os efeitos da pandemia por Covid-19].

Já muito próximo da apresentação de propostas para o Orçamento do Estado de 2026, olhe-se para a melhoria das condições de atratividade do investimento (nacional e estrangeiro), onde a indústria deve ser um alvo, por constituir um pilar fundamental da economia nacional!

Maria de Lurdes Fonseca
Economista, diretora do Departamento de Estudos e Estratégia da AEP


Nota: Este artigo reflete a opinião da autora, não vinculando a AEP