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Aperto do financiamento condiciona investimento e PIB
Apenas o investimento e as exportações poderão impedir recessão em Portugal

A mais recente Envolvente Empresarial - Análise de Conjuntura - da responsabilidade conjunta AEP/AIP/CIP - dá conta das previsões de abrandamento vincado do PIB mundial e do PIB português em 2023. Neste ano, apenas o investimento e as exportações (também dependentes do investimento) poderão impedir uma recessão em Portugal, pois o consumo privado estará muito penalizado pela conjuntura adversa (impacto negativo da inflação e da subida das taxas de juro sobre o poder de compra, mais o efeito do baixo nível de confiança).

Ora a evolução do investimento (e do PIB) requer, além de uma boa execução dos fundos europeus – os remanescentes do PT 2020, cuja execução termina este ano, os do PRR, até 2026, e os do PT 2030, cujo início em pleno requer ainda aprovação de regulamentação nacional –, de financiamento nacional complementar, que merece uma análise atenta. 

Este número da publicação mostra claramente que a pressão ascendente das taxas de juro de curto prazo (taxas diretoras do BCE e taxas Euribor, em máximos de 14 anos) se transmitiu aos prazos mais longos nos vários mercados. No mercado de dívida soberana, a yield nacional a 10 anos registou um máximo de cinco anos e meio em outubro, corrigindo depois em baixa em novembro, mas a trajetória voltou a ser de subida em dezembro, sendo clara a tendência ascendente, que deverá continuar face à evolução das taxas de juro de curto prazo.

No mercado de financiamento às empresas, ainda mais importante para a evolução do investimento, a taxa de juro a sociedades não financeiras sobre novas operações até 1 milhão de euros (média ponderada pelos prazos) atingiu um máximo mensal de sete anos e meio em novembro (4,27%), passando a ser a oitava mais alta entre os 19 países na área euro (média de 3,37% em novembro), onde a subida tem sido relativamente menor.   

Ainda que as PME, que constituem o grosso do tecido empresarial, tenham vindo a melhorar a sua capitalização desde a altura do programa de ajustamento (com o capital próprio a representar 41,2% do ativo no final de junto de 2022, após 38,3% em 2019, antes da pandemia, e 26,6% em 2012, ano de início da série e a meio do programa de ajustamento), possuindo mais recursos próprios, a verdade é que o investimento necessário neste ano e nos próximos para acompanhar a execução dos fundos europeus irá requerer volumes significativos de financiamento externo, nomeadamente o bancário, mais tradicional.

Ora os dados mostram que o stock de crédito total às Sociedades não Financeiras (SNF) prosseguiu em abrandamento ligeiro em outubro (para uma taxa de variação anual, tva, de 3,1%) e a componente de stock de empréstimos das IFM (Instituições Financeiras Monetárias) às SNF desacelerou nesse mês e em novembro, para próximo de zero (tva de 0,3%; dados ajustados), com as quedas registadas nas pequenas empresas (-2,0%; dados não ajustados) e nas médias empresas (-1,5%) a serem contrariadas pelo crescimento ainda assinalável nas microempresas (6,6%) e, em menor medida, pela subida ligeira nas grandes empresas (0,4%). Realce ainda para a intensificação da desaceleração do stock de empréstimos das IFM às Sociedades privadas exportadoras, que passaram a registar uma dinâmica inferior ao conjunto das SNF (0,0% e 0,8% em novembro, respetivamente; dados não ajustados).

As dinâmicas de financiamento referidas causam, por isso, preocupação quanto à evolução próxima do investimento e das exportações – cruciais para evitar uma recessão –, constituindo mais um alerta para que o Governo agilize e acelere a execução dos fundos europeus, incluindo a criação de apoios facilitadores de financiamento complementar às empresas.

Veja outros dados destacados pela AEP na Envolvente Empresarial - Análise de Conjuntura relativa ao 4.º trimestre de 2022, disponível aqui.