Notícias

Anatomia da crise e ambições para a retoma
Luís Miguel Ribeiro, presidente da AEP no Dinheiro Vivo

A médio e longo prazo (...) os principais vetores da retoma económica deverão ser o aumento da intensidade exportadora e a aposta associada na reindustrialização, considera o presidente da AEP, Luís Miguel Ribeiro, na sua coluna de opinião quinzenal no Dinheiro Vivo:

 
Anatomia da crise e ambições para a retoma

O INE confirmou esta semana a queda homóloga real de -16,3% do PIB no 2.º trimestre – a pior já registada e a 4.ª maior entre 20 países da UE com dados -, agora com as componentes, que expõem a “anatomia” da crise.
 
O maior contributo negativo veio da procura interna, mas a procura externa líquida também caiu, pois o recuo das importações apenas amorteceu o “tombo” das exportações (-39,5%, incluindo -54,5% nos serviços, com o Turismo “quase parado”), cujo peso no PIB teve uma queda abrupta para 29,8% (após 42,0% e 44,2% nos trimestres anteriores, este último um máximo), o valor de uma década atrás e pouco acima do registado no ano de entrada na CEE.
 
É um forte revés na caminhada para a importante e ambiciosa meta de 53% de intensidade exportadora do recente Programa Internacionalizar 2030, exigindo uma maior determinação das políticas públicas na sua prossecução, o que começa pela retoma do indicador, para que não se perca o ganho conseguido na última década, fruto do esforço das empresas.

A retoma económica terá de passar pela recuperação do nosso desempenho na internacionalização da economia.

Se as quedas homólogas do consumo privado, exportações e importações foram as maiores em registo (respetivamente -14,5%, -39,5% e -29,9%), já o recuo de -9,0% da FBCF é muito inferior à maior perda durante a Troika (-19,4% no 4.ºT 2011), evidenciando a resiliência das empresas, responsáveis pela principal fatia do investimento, mas com diferença nos setores. O VAB setorial teve quedas homólogas na maioria dos casos – exceto na Construção e na Agricultura/Pescas -, superiores a 20% no Comércio e na Indústria.

Para preservar a atividade e o emprego (que teve uma queda homóloga de -3,3%) é preciso, no curto prazo, manter apoios às empresas – sobretudo o lay-off simplificado – e disponibilizar novas e ágeis ferramentas de liquidez e capitalização (com apoio do Banco de Fomento).

A médio e longo prazo, já com o Plano de recuperação e o novo Quadro Financeiro Plurianual, os principais vetores da retoma económica deverão ser o aumento da intensidade exportadora e a aposta associada na reindustrialização – proposta no Plano Portugal Industrial 5.0 da AEP -, que também estimula a substituição competitiva de importações, dentro de uma lógica de valorização e reforço da oferta nacional e tendo como pressuposto a melhoria do contexto de competitividade.   

 
Luís Miguel Ribeiro, presidente da Associação Empresarial de Portugal
In Dinheiro Vivo 05.09.2020