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A Europa, a indústria e os blocos económicos
A opinião de Luís Miguel Ribeiro no Dinheiro Vivo

"A aplicação de direitos compensatórios será o mais fácil, mas não resolverá estruturalmente o problema da falta de competitividade de uma Europa que tem vindo a perder peso no cenário mundial".

Na sua mais recente coluna de opinião no Dinheiro Vivo, o presidente do CA da AEP defende uma "forte aposta e apoio da Europa à sua indústria, tornando-a mais competitiva", a propósito da decisão da Comissão Europeia de impor taxas suplementares nos veículos elétricos importados com origem chinesa.

De acordo com Luís Miguel Ribeiro, "a indústria possui um elevado potencial de valor acrescentado, com grande significado no emprego e com um peso indiscutível numa estratégia de crescimento económico mais robusto e sustentável"

Leia a coluna na íntegra:


A Europa, a indústria e os blocos económicos

Até à data tem sido consensual que fechar as economias – ao contrário de promover a sua maior abertura - trará menos benefícios para todos.  Estaremos agora num novo paradigma, em que sucede exatamente o oposto? Não é provável! A abertura das economias, amplamente discutida no âmbito das teorias de comércio internacional, tende a produzir benefícios significativos para as diferentes partes, pese embora a possível existência de assimetrias na respetiva distribuição.

Vem isto a propósito do facto de, no passado dia 12 de junho, a Comissão Europeia ter declarado que irá impor, com carácter temporário, taxas suplementares (que podem atingir 38,1%) nos veículos elétricos importados com origem chinesa. A medida foi anunciada após o início da investigação de que o Governo chinês subsidia excessivamente as suas empresas neste mercado, permitindo-lhes praticar um preço significativamente inferior, pondo em causa a competitividade de preços no setor. 

Embora este movimento se insira num contexto em que, a nível mundial, blocos económicos e países têm adotado medidas unilaterais para defender o interesse dos seus setores, especialmente a indústria, a decisão da Comissão Europeia é vista com alguma relutância, apesar do seu carácter temporário.
Há anos que a Europa anda a defender um verdadeiro renascimento industrial europeu, mas ainda muito falta fazer para atingir tal propósito. A aplicação de direitos compensatórios será o mais fácil, mas não resolverá estruturalmente o problema da falta de competitividade de uma Europa que tem vindo a perder peso no cenário mundial. Esta imposição de direitos compensatórios, ao encarecer os bens, trará também problemas para a indústria europeia (ainda muito dependente da China, como bem vimos na pandemia, relativamente a outros bens). 

Para além de encetar um diálogo com este país asiático, relativamente a esta matéria, defendo o caminho de uma forte aposta e apoio da Europa à sua indústria, tornando-a mais competitiva. A indústria possui um elevado potencial de valor acrescentado, com grande significado no emprego e com um peso indiscutível numa estratégia de crescimento económico mais robusto e sustentável. 

O papel da indústria na economia e no desenvolvimento sustentável foi precisamente o tema da 5ª Conferência do Fórum Produtividade & Inovação, uma Agenda de Reformas para Portugal, realizada em Aveiro na passada quarta-feira, numa iniciativa da AIDA – Câmara de Comércio e Indústria do Distrito de Aveiro, da Fundação AEP e da SEDES.

Luís Miguel Ribeiro, presidente do Conselho de Administração
da Associação Empresarial de Portugal
In Dinheiro Vivo 22.06.2024