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A certeza da incerteza continua…
A opinião de Luís Miguel Ribeiro no Dinheiro Vivo

Para o presidente da AEP, "a frase 'temos de nos preparar para o pior', ganha hoje ainda mais sentido", defendendo que "a preparação não pode ter meramente um caráter individual, mas necessariamente coletivo".

Numa  análise ao atual contexto na sua coluna de opinião quinzenal no Dinheiro Vivo, Luís Miguel Ribeiro considera que "o nosso país e o bloco económico a que pertencemos devem refletir e, sobretudo, agir de forma célere, atempada e eficaz. Devem colocar no terreno soluções para problemas conjunturais, sem colocarem de lado a atitude estratégica de médio e longo prazo"

Leia a coluna na íntegra:


A certeza da incerteza continua…

Há dois anos que as empresas enfrentam sucessivas ondas de choque. Primeiro com os impactos da inesperada pandemia e agora (quando ainda não tinham recuperado o nível de atividade pré-pandemia) com o, também inesperado, conflito internacional entre a Rússia e a Ucrânia.

Respira-se um sentimento de enorme incerteza. A frase “temos de nos preparar para o pior”, ganha hoje ainda mais sentido. A preparação não pode ter meramente um caráter individual, mas necessariamente coletivo.

No contexto atual, o nosso país e o bloco económico a que pertencemos devem refletir e, sobretudo, agir de forma célere, atempada e eficaz. Devem colocar no terreno soluções para problemas conjunturais, sem colocarem de lado a atitude estratégica de médio e longo prazo. Uma presença menos vincada desta última vertente terá contribuído, em grande parte, para uma maior severidade dos efeitos das duas ondas de choque. Uma aposta menos incisiva numa política de valorização da indústria e de estímulo à diversificação e segurança no abastecimento energético, são dois bons exemplos.

A brutal subida dos custos das matérias-primas (energéticas e não energéticas) e, novamente, a disrupção nas cadeias de abastecimento, acumulam com as enormes fragilidades que as empresas já sentiam com a primeira grande onda de choque.

A fase atual é absolutamente crítica. As empresas, com destaque para as industriais, não têm margem para absorverem subidas de custos desta ordem de grandeza e receiam um cenário de colapso na ausência de medidas de apoio a nível nacional e europeu.

À data, ainda não há uma decisão formal na resposta europeia, que passará por descida temporária do IVA nos combustíveis, adoção do novo Quadro Temporário para auxílios de Estado, intervenção regulatória na formação do preço dos bens energéticos e por compras conjuntas para os bens energéticos e agrícolas, entre outros. O governo português avançou com algumas medidas, mas insuficientes e em algumas não são ainda conhecidos os detalhes à data em que escrevo este artigo, como é o caso da linha de crédito com garantia pelo Banco Português de Fomento, um instrumento de apoio à liquidez que a AEP também defende mas que não se deve sobrepor à reorientação do PRR, à redução substancial da carga fiscal sobre a energia e ao lay-off simplificado para os setores mais afetados, medidas que a AEP propôs e considera essenciais para combater as ondas de choque.

Luís Miguel Ribeiro, presidente da Associação Empresarial de Portugal
In Dinheiro Vivo 19.03.2022