Ritmo Económico

Ritmo Económico 02/2025

Ritmo Económico 02/2025

O segundo número do Ritmo Económico de 2025 apresenta uma análise da atividade económica global, em Portugal e no mundo.

Portugal registou no último trimestre do ano passado uma aceleração significativa do seu crescimento económico. Aliás, comparativamente a outros países da União Europeia, com dados já divulgados pelo Eurostat, o nosso país foi mesmo o que mais cresceu em cadeia, tendo ocupado a terceira posição em termos homólogos, apenas superado pela Lituânia e pelo nosso principal parceiro comercial - a vizinha Espanha. Esta dinâmica do PIB português seria um feito relevante se a sua sustentação assentasse em bases sólidas. Infelizmente, não é o caso, pois foi fortemente influenciado por uma medida one-off. O crescimento económico no último trimestre de 2024 ficou a dever-se, em grande parte, à aceleração da componente do consumo privado, em resultado da melhoria do rendimento disponível das famílias, sobretudo devido à redução do IRS nos meses de setembro e outubro, proveniente do ajustamento do excesso de retenções na fonte nos primeiros oito meses do ano, para além do efeito da diminuição das taxas de juro, perante a menor restritividade da política monetária do BCE.

A Europa, para onde dirigimos no ano passado 71,1% da totalidade das exportações de bens, manteve um ritmo de crescimento económico francamente baixo ou praticamente nulo. Significa que Portugal está a crescer acima da média europeia, mas nem poderia ser de outra forma, face à necessidade da rápida convergência com o nível de rendimento dos países europeus mais desenvolvidos.

É preciso alicerçar o crescimento da economia portuguesa em bases sólidas, essencialmente pela via do reforço do peso das exportações e do investimento no PIB, como a AEP sempre defende. A possibilidade de recessão/estagnação económica, influenciada pelo contexto europeu adverso, é o segundo principal risco para a economia portuguesa, apontado no “Global Risks Report 2025”, do World Economic Forum, a seguir à escassez de mão-de-obra e talento (que constitui o principal risco).

Nas exportações portuguesas de bens, apesar de em 2024 terem aumentado 2,5%, é preocupante a quebra observada em vários setores com elevado grau de especialização na estrutura produtiva nacional, como é o caso do mobiliário, vestuário e calçado, como também é preocupante que o crescimento global das exportações tenha ocorrido em mercados pouco dinâmicos (União Europeia). Três quartos do crescimento global das exportações portuguesas de bens assentou num único mercado: a Alemanha, que subiu para a segunda posição no ranking dos mercados de destino, mas que, como sabemos, enfrenta uma recessão económica. As exportações para os EUA, o nosso principal mercado fora da União Europeia, cresceram 1,5% no cômputo do ano de 2024, mas este crescimento foi fortemente influenciado por um efeito de base no último mês do ano, pois entre janeiro e novembro de 2024 as vendas com destino aos EUA evidenciaram um forte dinamismo (+8,9%).

O mercado de trabalho mantém-se resiliente, em termos de emprego (máximo das duas últimas décadas) e taxa de desemprego. Contudo, é preocupante a subida da taxa de desemprego jovem, já de si muito elevada, constituindo um paradoxo quando confrontada com a falta de mão-de-obra reportada pelas empresas. Como já referido, para 2025, a escassez de mão-de-obra e talento é apontado como o principal risco para Portugal.

Na estrutura de financiamento das empresas, o capital próprio tem ganho peso no segmento das PME, em detrimento do financiamento externo, situação à qual não será alheia a maior restritividade nos critérios de concessão de crédito, face aos riscos associados à situação e perspetivas de empresas ou setores de atividade específicos, como é vertido nos resultados do inquérito aos bancos realizado pelo Banco de Portugal.
 
No ponto 2 deste Ritmo Económico, é clara a existência de vários riscos a nível mundial, onde os conflitos armados e geopolíticos surgem como mais importantes no curto prazo. A escalada de uma guerra comercial a nível global, com retaliação de parte a parte, terá amplas implicações nos fluxos do comércio internacional e de investimento e, por essa via, no crescimento económico e bem-estar.

Por ser muito aberta ao exterior, a economia europeia, será potencialmente mais afetada pela fragmentação do comércio mundial, face a outros blocos económicos. Por isso, a implementação da “Bússola para a Competitividade da União Europeia”, ancorada no Relatório Draghi, que promete, entre outras medidas, uma forte aposta na inovação e um corte "sem precedentes" na burocracia, se for efetivamente célere terá um impacto positivo para a competitividade da União Europeia e os seus Estados-membros beneficiarão dessa ambiciosa estratégia, incluindo Portugal. A ambição da reindustrialização da Europa, que permitirá, em parte, reduzir a sua dependência face a outras geografias, é absolutamente crítica.

Nos impactos que a política protecionista americana pode ter para Portugal, é importante tentar avaliar os riscos, já que estamos perante o principal mercado de destino das exportações portuguesas de bens fora da Europa e o mercado com o qual Portugal apresenta o maior excedente comercial. Vários setores da especialização produtiva portuguesa estão fortemente expostos aos EUA.

O reforço da estratégia de diversificação de mercados, para fora do espaço europeu, onde Portugal apresenta vantagens ao nível de uma maior afinidade cultural e linguística (por exemplo, nos mercados do MERCOSUL) torna-se, cada vez mais, relevante. Neste âmbito, é de destacar o importante papel das associações empresariais, como a AEP, ao nível do reforço da promoção externa para mercados que revelam um forte dinamismo e são, simultaneamente, de grande dimensão e mais longínquos.

Como é possível constatar pelos dados aqui apresentados, nos custos de financiamento, a taxa de juro nas novas operações de empréstimos às empresas tem-se situado muito acima da média registada na última década. O mesmo se passa relativamente ao preço atual de várias matérias-primas industriais, bem acima do valor médio observado na última década.

Por tudo isto, a questão do financiamento empresarial, direcionado às necessidades de tesouraria e de investimento, em condições adequadas, é absolutamente crítica.
 
Lurdes Fonseca
AEP - Departamento de Estudos e Estratégia
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