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Turismo poderá mitigar abrandamento do PIB
Forte potencial de recuperação nos três principais mercados externos

A Envolvente Empresarial de abril - de responsabilidade AEP/AIP/CIP - permite destacar a subida da inflação para valores historicamente elevados − atingindo, já em abril, um valor homólogo de 7,2%, o máximo desde março de 1992 −, que começa a deteriorar o poder de compra e irá penalizar a evolução próxima do consumo, cujo comportamento foi ainda positivo no 1º trimestre ("crescimento mais acentuado", segundo a apreciação qualitativa do INE, que irá divulgar mais tarde os dados quantificados), contribuindo para a subida acima do esperado do PIB (variação homóloga 11,9% e de 2,6% em cadeia, em volume).

Outro fator que contribuiu para a melhoria do PIB foi a "recuperação da atividade turística", que poderá perdurar ainda algum tempo, como evidenciam dados entretanto divulgados pelo INE. 

De acordo com a estimativas rápidas do INE reportadas a março, no 1º trimestre assistiu-se a uma forte subida do número de hóspedes e de dormidas (367% e 399%, respetivamente) face a igual período de 2021, mas a queda é ainda acentuada em comparação com 2019, antes da pandemia (variação de -19% nos dois casos), pelo que o período de normalização da atividade deverá prosseguir proximamente, ajudando a mitigar o abrandamento esperado da economia no contexto de guerra, isto assumindo que não há um ressurgimento da pandemia e novas restrições inibidoras do turismo.

A margem para recuperação é maior nos turistas estrangeiros, onde as quedas face a 2019 são superiores (-29% no número de hóspedes e -26% no número de dormidas vs. -6% e -2% nos turistas nacionais), com Portugal a poder beneficiar da imagem de destino seguro, longe da guerra, embora haja também o risco de diminuição global da procura de turismo, nacional e estrangeiro, devido à perda de poder de compra (em Portugal e no exterior). 

É esse balanço que irá determinar o contributo que o turismo poderá ter na sustentação do nível global de atividade económica proximamente, ainda que seja de assinalar que o contributo da atividade turística para a variação do PIB poderá ser mais limitado do que no passado, seja qual for a taxa de crescimento da atividade turística, devido ao recuo do seu peso no contexto da pandemia. 

De acordo com os dados da Balança de Pagamentos, o peso da componente Viagens e turismo face ao total das exportações de bens e serviços recuou de 19,5% no ano de 2019 para 10,4% em 2020 e recuperou apenas ligeiramente em 2021, para 11,2%. Nos dados das contas nacionais por ramos, o peso do alojamento e restauração baixou de 6,1% do VAB em 2019 para 3,6% em 2020, não havendo ainda dados isolados no conjunto de 2021, mas pressupõe-se que tenha havido uma recuperação apenas parcial, com os dados conjuntos disponíveis do alojamento e restauração, comércio e reparação automóvel a mostrarem uma melhoria apenas marginal do peso agregado, de 17,0% em 2020 para 17,2% em 2021, após 19,2% em 2019.

Retomando a análise das estatísticas do turismo no 1º trimestre, agora por mercados de origem, a evolução negativa das dormidas face ao período homólogo de 2019 mostra que há um forte potencial de recuperação nos três principais mercados externos (variações de -25% no mercado do Reino Unido, -27% em Espanha e -29% na Alemanha) e, de forma ainda mais vincada, nalguns mercados com pesos intermédios (-32% em Itália, -41% no Brasil e -43% na Suécia), sendo poucos os casos onde já se registam níveis acima do pré-pandemia (12% na Polónia, 4% na Irlanda, 60% na Chéquia e 8% na Roménia, ordenados por dimensão). 

Assinala-se também que a margem de recuperação face ao nível pré-pandemia é superior à média nacional nas regiões do Algarve (-24%) e A.M. de Lisboa (-25%), que têm o maior peso. 

Por tipo de estabelecimentos, destaca-se a queda abaixo da média das dormidas face a 2019 no alojamento local (-15% face a -19% no conjunto dos dados), cujo peso relevante (15% do total no 1º trimestre) poderá baixar após a decisão recente do Supremo Tribunal de que essa tipologia deixa de ser possível nos prédios destinados a habitação, o que é um risco para a dinâmica da oferta turística. 

Por último, faz-se notar que a estada média dos turistas no 1º trimestre se situou ao nível de 2019, embora com diferenças entre as regiões (com as quedas de -3% no Algarve, -5% na R.A. dos Açores e -10% na R.A. da madeira a serem compensadas pelas subidas entre 2% e 8% nas demais regiões).

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