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Reduzir a pegada ambiental através da digitalização
Um artigo de Rui Barros na revista BOW 27
Digitalização na Logística e na Indústria: um pequeno passo para internacionalizar e preservar o Planeta
A utilização da logística faz-se desde tempos antigos e, sobretudo, pela necessidade de movimentar matérias-primas e produtos entre diferentes locais. Produzir com o propósito de comercializar, escoar excedentes ou adquirir a fornecedores distantes, são fatores que há muito motivam a existência de uma logística eficiente e de cariz global. Nas últimas décadas, a tendência de movimentar carga acentuou-se, pela pressão do crescimento do consumo, da evolução tecnológica, da facilidade de acondicionar e transportar, do surgimento de novos mercados consumidores e de novas áreas de produção. Tudo isto tem conduzido à excessiva utilização de recursos naturais, a um desgaste elevado em termos ambientais e a novos fenómenos sociais que contribuem para um desequilíbrio indesejável.
A colaboração é uma das realidades mais relevantes nas operações associadas à movimentação da carga, uma vez que estas envolvem múltiplas entidades com necessidade de produzir e obter informação e documentos. Uma vez que se trata maioritariamente de documentos necessários e obrigatórios para que as transações se realizem, e, de informação primordial para impulsionar a competitividade das empresas, os custos associados são também muito significativos e refletem-se no custo final dos produtos.
A procura incessante por soluções que permitem aumentar a eficiência e a competitividade e baixar os custos de contexto, tem vindo a gerar tendências universais, baseadas na aplicação de novas tecnologias à logística, com impacto nas indústrias produtivas e no comércio internacional. A digitalização é uma das áreas que mais contributos aporta, pois, a sua adoção conduz à melhoria de processos, promove a redução de tarefas duplicadas, incrementa o conhecimento e a confiança na cadeia de abastecimento e, potencia a tomada de decisão com base em factos conhecidos e não apenas em suposições ou estimativas.
Porém, o caminho que as empresas têm de percorrer para alcançar tão elevado grau de maturidade em termos de digitalização pode ser penoso e com custos de implementação demasiado elevados. Contudo, atualmente existe informação suficiente e apoios financeiros que permitem às empresas implementar de forma segura o seu processo de digitalização.
A publicação de standards e normas internacionais que facilitam a troca de informação e de documentos em formato digital tem vindo a ser explorada pelos mais diversos setores intervenientes no negócio. A utilização da Universal Business Language (UBL) tem vindo a crescer de modo muito acelerado, sobretudo pelo facto de ser hoje o standard usado na Europa para a emissão das faturas eletrónicas.
Ciente deste potencial, a MITMYNID promoveu e coordenou o projeto EUPLe.eu, cofinanciado pela União Europeia, no qual foram realizadas as primeiras implementações usando a linguagem UBL para a elaboração dos documentos em formato digital, a tecnologia CEF eDelivery e Open Peppol para a transmissão dos documentos e da informação digital num ambiente seguro entre as empresas. Este projeto deu origem ao grupo de trabalho "Peppol Logistic" que visa a sua aplicação ao nível global nos setores da cadeia de abastecimento.
Na Europa e no resto do mundo, diversos grupos de trabalho têm vindo a produzir resultados muito relevantes no sentido de fomentar a normalização nos processos associados à logística através da elaboração de regulamentação, de novos standards internacionais ou aperfeiçoamento de existentes e de recomendações ao nível das tecnologias.
O Digital Transport and Logistics Forum (DTLF) é um grupo de especialistas da Comissão Europeia que tem como missão providenciar assistência técnica e a elaboração de especificações para a implementação da regulamentação (UE) 2020/1056 sobre a Informação do Frete Eletrónico (eFTI) e a partilha de informação nos corredores logísticos. Estes trabalhos têm sido complementados com financiamento atribuído a vários projetos de âmbito europeu que se debruçam sobre o tema da digitalização, destacando-se os projetos FEDeRATED e FENIX.
Ao nível regional, o projeto CoLogistics na Eurorregião Galiza-Norte de Portugal, no qual a AEP foi um dos parceiros, fomentou a avaliação do estado de maturidade da logística na Eurorregião, seguindo o Logistics Performance Index do Banco Mundial, o aumento da competitividade das empresas por via da adoção de um Padrão para a Logística a implementar pelas empresas da logística e da indústria, e, disponibiliza ferramentas de apoio à logística Smart e Green.
Ao nível global e setorial, entidades como a Digital Container Shipping Association (DCSA), a International Air Transport Association (IATA), trabalham arduamente na produção de regulamentação, tecnologia, linguagens e guias de apoio à implementação que facilitam o processo de transformação nas empresas dos setores e que visam reduzir o fosso digital que existe entre as empresas.
O uso destas tecnologias abertas e apoiadas em standards permite que as empresas participem em cadeias globais sem barreiras ou custos acrescidos, promovendo a sua internacionalização de modo mais célere e facilitando a interligação com marketplaces de e-commerce. Entre outras, o BIZCARGO é uma plataforma portuguesa que promove a digitalização e a colaboração entre a logística e a indústria à escala global.
Outra dimensão que tem vindo, finalmente, a conquistar terreno é a consciência ambiental e que tem suscitado a adoção de práticas mais sustentáveis e que ajudam a preservar o Planeta. A logística tem um peso muito significativo no consumo de recursos e na emissão de gases poluentes, contudo, os seus atores caminham aceleradamente para reduzir esses fatores e tornarem a atividade neutra. Uma vez mais, as novas tecnologias têm potenciado essa neutralidade através da substituição de materiais e combustíveis poluentes por não poluentes, da introdução de otimizações nos processos e de redefinições da malha de distribuição com o uso da Inteligência Artificial e do uso de veículos autónomos ou drones.
De qualquer modo, independentemente das tecnologias mais ou menos sofisticadas, as empresas dispõem hoje de múltiplas opções que lhes permitem reduzir pacificamente a pegada ambiental e aumentar a satisfação e melhorar a condição de vida das pessoas – colaboradores e sociedade em geral.
Rui Barros, Diretor Executivo da MitMyNid
In Revista BOW, n.º 27 - Logística, Cadeia de Abastecimento, E-Commerce e Internacionalização
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