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Precisamos de marcas sólidas e reconhecíveis
Um artigo de Rui Miguel Nabeiro na revista BOW 30
O papel da internacionalização na afirmação de Portugal
Portugal tem vivenciado um processo de transformação notável, consolidando a sua presença internacional. Neste contexto, a internacionalização das empresas e o crescimento das exportações emergem como protagonistas fundamentais na afirmação do país além-fronteiras.
A internacionalização, entendida como a inserção estratégica das empresas no mercado global, transcende a mera busca por mercados externos. Esta representa a consolidação de uma visão de longo prazo, onde as organizações portuguesas procuram oportunidades, não apenas para expandir as suas operações, mas para adquirir conhecimento, inovação e competitividade.
O setor exportador, por sua vez, assume um papel crucial neste processo. Portugal viu nas exportações uma forma de projetar a sua identidade e competências para o mundo. Produtos como o vinho, o azeite, os têxteis e o calçado português conquistaram mercados internacionais, contribuindo não apenas para a economia, mas também para a construção de uma imagem positiva do país – a marca Portugal.
A diversificação dos destinos das exportações é um ponto crucial. Se, no passado, a dependência excessiva de mercados específicos poderia representar uma vulnerabilidade, a atual estratégia visa a expansão para novas geografias. Isso não só dilui riscos económicos – especialmente num contexto internacional volátil – mas também fortalece os laços diplomáticos e culturais, consolidando a presença de Portugal no mundo.
A Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP) tem, nesta matéria, contribuído ativamente com um plano de missões internacionais, que, todos os anos, leva dezenas de empresas portuguesas a conhecer novos mercados. Por outro lado, a CCIP conta hoje com mais de 1100 associadas por todo o país e uma rede de parceiros que inclui 62 Câmaras de Comércio portuguesas espalhadas por 43 países, que contribuem para a entrada das nossas empresas nesses mercados.
A União Europeia desempenha um papel central nesse contexto. Como membro da UE, Portugal beneficia não apenas do acesso ao mercado comum, mas também de políticas e programas que promovem a internacionalização. Os fundos estruturais e de coesão, por exemplo, devem ser investidos em projetos que fortaleçam a capacidade exportadora e a competitividade das empresas portuguesas.
No entanto, a internacionalização não é um processo isento de desafios. Questões como barreiras comerciais, diferenças regulatórias e volatilidade cambial exigem estratégias sólidas e adaptáveis. O investimento em diplomacia económica e acordos bilaterais torna-se uma ferramenta essencial para mitigar estes obstáculos, proporcionando um ambiente mais propício para as empresas competirem lá fora.
Além do setor privado, o Governo deve ter um papel a desempenhar. A criação de políticas de fomento à internacionalização, a simplificação de processos burocráticos e a promoção de missões comerciais são iniciativas que incentivam as empresas a explorarem novos mercados. A formação de profissionais capacitados para atuar no comércio internacional é um investimento estratégico que impulsiona a competitividade global das empresas.
Outro destaque é a necessidade de promover a inovação e a sustentabilidade. Os mercados globais estão cada vez mais atentos a práticas sustentáveis e empresas que incorporem estes valores nas suas operações têm vantagem competitiva. Portugal, com o seu potencial nas energias renováveis e tecnologias limpas, pode posicionar-se como referência.
Tudo isto não terá os efeitos desejados sem resolvermos uma lacuna que o país ainda tem: a falta de marcas globais. Sem a construção de marcas fortes e com expressão internacional o país não conseguirá gerar o valor acrescentado necessário para desenvolver, de forma consistente, a sua economia. O próximo passo crucial na internacionalização das nossas empresas não se resume à expansão geográfica, mas sim ao investimento estratégico na criação de marcas sólidas e reconhecíveis a nível global. Neste cenário empresarial, o êxito da nossa presença internacional será avaliado não apenas pela extensão dos nossos negócios, mas pela duradoura ressonância das marcas que concebemos e consolidamos em todo o mundo.
Rui Miguel Nabeiro, Presidente da CCIP - Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
In Revista BOW 30 – O Papel da Internacionalização na Afirmação de Portugal
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