Notícias

O mercado exige inovação e diferenciação
Um artigo de Helder Barata Pedro na revista BOW 29


Desafios da Indústria Automóvel em Portugal e no Mercado Internacional

Reconhecido como um dos pilares fundamentais da economia nacional, a indústria automóvel em Portugal encontra-se em plena metamorfose estrutural, impulsionada pelos avanços tecnológicos e por políticas ambientais rigorosas. De um modo geral, apesar dos desafios que tem atravessado, Portugal tem-se consolidado como uma presença inegável no mercado internacional.

Esta evolução é fruto da confluência de três fatores determinantes: a notável capacidade inovadora das empresas, a elevada qualificação dos profissionais e a excelência inquestionável do valor acrescentado da produção nacional. Os mais recentes dados sobre a produção automóvel no país são elucidativos quanto à importância deste setor, que apesar de ter tido a produção interrompida durante vários meses, devido à pandemia por Covid-19, pela escassez de semicondutores e pela interrupção das cadeias de abastecimento, tem mostrado sólidos sinais de recuperação. Na globalidade, em 2022, as fábricas em solo nacional produziram 322.404 veículos, representando um incremento de 11,2% em relação ao ano anterior. Informações de mercado mais recentes indicam que no primeiro semestre de 2023, a produção acumulada atingiu 183.154 veículos, um aumento expressivo de 16,6% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Este valor de produção nacional, leva a que Portugal seja considerado um país construtor de automóveis.

Um aspeto fulcral que não pode ser descurado é a vocação exportadora da indústria automóvel portuguesa. Em 2023, 97,7% dos veículos fabricados em Portugal destinaram-se ao mercado internacional, um testemunho inequívoco do seu impacto positivo na balança comercial do país. A Europa permanece como o principal mercado, absorvendo 97,4% das exportações. Dentro do continente europeu, destacam-se a Alemanha, França, Itália e Espanha como os principais destinos.

Contudo, desafios recentes, como a escassez de semicondutores e os impactos resultantes da pandemia Covid-19, têm evidenciado as vulnerabilidades da cadeia de abastecimento global no setor. A indústria enfrenta um cenário marcado por uma incerteza acentuada – seja ela tecnológica, decorrente de alterações nos incentivos e na legislação ambiental, ou provocada por disrupções nas cadeias de abastecimento.

Também as alterações climáticas, como recentemente aconteceu com as cheias na Eslovénia, podem vir a causar interrupções na cadeia de abastecimento.

Neste contexto, o setor deve adotar estratégias que mitiguem estes fatores. O mercado automóvel europeu e mundial, marcadamente competitivo, exige que as empresas inovem e apresentem propostas de valor que as distingam por estes fatores. Também a atração e retenção de profissionais qualificados e capacitados, é crucial para promover a inovação e, por conseguinte, diferenciação no mercado.

Uma análise ponderada das atuais oportunidades e desafios permite antever um caminho mais auspicioso para o futuro. A nível global, tem-se assistido a uma tendência marcada pela eletrificação e automação no setor. Para Portugal se afirmar, são urgentes investimentos significativos em tecnologia e em Investigação & Desenvolvimento (I&D). Ignorar tais tendências do mercado pode relegar qualquer interveniente para um plano secundário. Simultaneamente, face às exigentes diretrizes ambientais da União Europeia, os fabricantes têm o dever de desenvolver veículos que satisfaçam estes requisitos rigorosos.

Para assegurar a sustentabilidade e preponderância do setor automóvel em Portugal, é imperativo delinearem-se estratégias sólidas de políticas públicas que fomentem o crescimento da indústria. Esta abordagem, conjugada com uma postura assertiva por parte do sector, visa consolidar Portugal como um núcleo privilegiado para o desenvolvimento e inovação no âmbito automóvel.

Portugal possui um importante Cluster Automóvel. Ao participar na criação da Mobinov - Cluster Automóvel, a ACAP teve como objetivo principal potenciar este setor designadamente com o aumento da incorporação de componentes produzidos no nosso país. Foi esse o propósito da criação do importante eixo da qualificação no cluster.

Mas, estas evoluções não se fazem por decreto, a indústria automóvel é uma indústria global altamente competitiva e é, pois, necessário o esforço de todos para podermos evoluir naquela direção.

Helder Barata Pedro, Secretário-Geral da ACAP (Associação Automóvel de Portugal)
In Revista BOW 29 - A Indústria Automóvel e de Componentes – Desafios nos Mercados Internacionais

Descarregar o artigo