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Novos desafios e tendências na logística
Um artigo de Miguel Cruz na revista BOW 27

Logística, Cadeia de Abastecimento, E-Commerce e Internacionalização: Alguns desafios e tendências

Dois anos de pandemia (com alterações de procura e uma situação sanitária nunca vista), e um ano de guerra na Ucrânia (com sanções, impactos em determinados produtos, subidas de preços, nomeadamente de energia, e desafios geopolíticos não antecipados), vieram perturbar de forma expressiva tendências de procura e capacidades de oferta, acelerando evoluções e introduzindo uma disrupção significativa na estrutura logística e nas cadeias de abastecimento. Como resultado da crise pandémica na taxa de crescimento das economias, a capacidade exportadora e o peso da internacionalização das empresas voltam a assumir um particular destaque, desde logo porque foi preciso retomar contactos, processos, canais, numa espécie de stress test, concomitante com uma perturbação logística e de alteração de margens, impactante na sua competitividade. A qualidade, capacidade de resposta e de estabelecimento de relações de confiança foi determinante para que as empresas portuguesas pudessem manter e aumentar a sua atividade internacional.

Se o e-commerce vinha demonstrando um enorme potencial de crescimento, a pandemia quebrou a curva de crescimento, tornando-a mais inclinada. À diversificação de produtos vendidos online, à evolução na capacidade digital das empresas, à digitalização e automatização da logística que permite uma melhoria significativa na rapidez e fiabilidade das entregas, veio a somar-se o(s) confinamento(s).

De acordo com o "CTT e-commerce Report" de 2021, em Portugal as compras online atingiram um valor superior a 5,5 mil milhões de euros. 

Somando os serviços, o total do mercado e-commerce B2C em Portugal atingiu os 10 mil milhões de euros em 2021, tendo crescido 36,2% face a 2020. A rapidez de entrega é, claro, diferenciadora para o consumidor (média de 3,5 dias). Segundo a mesma fonte, os principais motivos para comprar online são a maior facilidade de compra, preços mais baixos e a conveniência de comprar a qualquer hora. O mundo muda, de facto, e o esforço de digitalização das empresas, acrescido de fatores como o teletrabalho, muito contribuem para alteração de comportamentos.

Por outro lado, segundo um estudo da Deloitte, 51% das empresas já disponibilizam online a quantidade de stock disponível nas suas lojas, permitindo a recolha da encomenda poucos minutos depois do pedido.

Assim, o e-commerce está a provocar alterações substanciais na cadeia de abastecimento. Na last mile, a entrega de mercadorias em formatos volumosos e homogéneos tem vindo a ser substituída por encomendas de menor dimensão e entregas frequentes ao domicílio ou em pontos de recolha, com os inerentes desafios ambientais e de mobilidade. O Word Economic Forum, estima que as entregas last mile em ambiente urbano aumentem cerca de 78% até 2030.

A pressão para entregas rápidas e eficientes implica adaptações da logística, em termos de gestão de stocks e de cadeia de abastecimento. A diversificação e personalização de opções de entrega, em termos de horário e de localização, exige também que a logística se adapte, sendo ainda que a monitorização da entrega em tempo real, implica um aumento da complexidade e fiabilidade da logística (para além de desafios ao nível da cibersegurança).

A aposta na inovação prova-se, por isso, uma necessidade continuada, seja na automação, na combinação de máquinas com processos digitais, desenvolvimento de tecnologias de digitalização, as tecnologias de identificação de frequência de rádio (RFID), a inteligência artificial (IA), e utilização de drones (na automação de armazéns, gestão de inventários, na entrega de produtos, ou na gestão e acompanhamento de infraestruturas de transporte). A crescente integração da impressão 3D pode também contribuir para aumentar a resiliência da cadeia de abastecimento do e-commerce.

Neste contexto, o transporte ferroviário constitui relevante aposta até ao final desta década, oferecendo às empresas oportunidades para expandirem internacionalmente a sua oferta, com fiabilidade e segurança. Portugal tem investimentos infraestruturais em curso e planeados que permitirão, uma vez ultrapassados os constrangimentos decorrentes dos períodos de investimento (temporalmente muito concentrados), aumentar a capacidade das infraestruturas, enquanto se reduzem os custos do transporte.

Os custos do transporte são muito relevantes para a competitividade das empresas. Os investimentos que a IP está a realizar na ferrovia, designadamente através da criação de condições para a circulação de comboios de 750 m, vão permitir uma redução muito significativa do custo do transporte de mercadorias, da ordem de 30% a 50%.

O aumento estimado da capacidade será, também, significativo. Atualmente saem cerca de 20 comboios de mercadorias/dia pelas principais fronteiras, sendo que, no final do plano de investimentos em curso, passaremos a cerca de 70 comboios/dia.

Já as estações ferroviárias têm vindo a assumir um papel com crescente importância, sendo cada vez mais comum disponibilizarem cacifos postais e-commerce ou e-boxes que permitem a entrega de bens comprados na internet, de forma cómoda, segura e rápida, em especial quando o comprador reside em áreas com restrições de entrega de encomendas ou quando não se encontra em casa durante o seu horário de trabalho.

Miguel Cruz, Presidente da Infraestruturas de Portugal   
In Revista BOW, n.º 27 - Logística, Cadeia de Abastecimento, E-Commerce e Internacionalização

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