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No mercado de luxo em nome próprio é o caminho
Um artigo de Bernardo Ivo Cruz na revista BOW 28

A indústria do luxo e a internacionalização

A “indústria do luxo” tem desempenhado um papel cada vez mais importante a nível do comércio global. Portugal não é exceção. A qualidade, a inovação e a excelência dos produtos portugueses são fatores distintivos do País, e conferem-lhe potencial para se destacar neste segmento.

Com o aumento do poder de compra de classes médias e altas de países emergentes, nomeadamente na Ásia, o perfil do consumidor de luxo tem vindo a alterar-se, sendo hoje mais jovem e mais digital, mas também mais exigente em termos das garantias de sustentabilidade do que compra.

Assim, também no mercado do luxo, as empresas cada vez integram mais os princípios da sustentabilidade e os critérios ESG (ambientais, sociais e de governação) nas suas estratégias de produção e de comunicação.

É disso exemplo a adoção de um modelo de economia circular também pela indústria do luxo, que garanta uma redução da pressão sobre o ambiente e a utilização de tecnologia para desenvolver novos materiais, assentes em princípios de sustentabilidade ambiental, mas também de responsabilidade social, desde a sua conceção à sua distribuição. Esta, pode ser também uma oportunidade para Portugal.

Afirmando-se como País amigo do ambiente, Portugal tem estado na vanguarda da aposta na sustentabilidade, conjugando a transição energética e a transição digital. Temos uma capacidade notável de aliar técnicas ancestrais à tecnologia, apresentando novos produtos completamente inovadores que nos colocam em lugares de topo mundial, o que também poderá ser uma realidade para o segmento do luxo.

A criação de valor no tecido empresarial português, aliado ao saber-fazer na indústria de luxo, é uma das mais-valias do nosso país. Portugal é conhecido pela excelência de artesãos, pelo trabalho de perícia e pelas diversas técnicas ancestrais aplicadas às indústrias do têxtil, calçado, mobiliário, cerâmica e ourivesaria.

Mas estamos, neste momento, perante um grande desafio: afirmarmo-nos no mercado do luxo adicionando valor (design, experiências e narrativa) ao que produzimos, nomeadamente aos nossos produtos tradicionais de excelência, batendo-nos por um lugar próprio neste palco, ou continuarmos a emprestar o nosso saber-fazer a grandes empresas internacionais de luxo, permanecendo como “fornecedores” da indústria do luxo, sem projeção de voz nem de imagem.

Muitas são as empresas portuguesas que já produzem para marcas de luxo a nível mundial, como a Armani, Versace, Dolce&Gabbana, Hugo Boss, Kenzo, Lanvin, Alexander Wang, Dior, Louis Vuitton ou Balenciaga, apenas para dar alguns exemplos, em setores como o calçado, têxtil, moda e joalharia.

Os altos padrões de qualidade, a atenção ao detalhe e ao cliente, a flexibilidade na produção, entre outros fatores, têm permitido às empresas portuguesas corresponder às expectativas desta indústria tão exigente. Portugal pode continuar a trabalhar para se posicionar como um dos produtores de renome mundial de produtos de luxo, mas convinha que o fizesse, cada vez mais, em nome próprio. 

O saber-fazer português, cada vez mais sofisticado, aliado à produção de bens de elevada qualidade, por um lado, e ao design, inovação e sustentabilidade, por outro, tem potenciado o surgimento de marcas portuguesas no segmento de luxo e esse terá de ser o caminho.

Em Portugal, já temos alguns exemplos de empresas que sustentam a sua produção no saber-fazer e que têm um posicionamento internacional na indústria do luxo.

Do mobiliário, têxtil, moda, calçado, passando pela joalharia, ourivesaria e cerâmica, ao turismo, vinho e outros bens de consumo agroalimentar, a oferta de produtos e serviços exclusivos garantem às marcas portuguesas um valor distintivo.

O setor do calçado é, aliás, um exemplo muito interessante de posicionamento da marca “Made in Portugal”. Se há décadas o calçado português era reconhecido por ser barato, hoje é merecidamente reconhecido pela sua qualidade e design, através de fortes e dedicadas campanhas de promoção. Hoje, o “Made in Portugal” acrescenta valor e podemos dizer que não é só no setor do calçado.

Vale a pena, pois, continuar a investir em promoção e na internacionalização das marcas portuguesas de luxo que são sobejamente conhecidas em Portugal, mas que ainda precisam de notoriedade a nível internacional. A colaboração entre a empresa Viúva Lamego e o projeto “Bolo da Noiva”, da Joana Vasconcelos, para a família Rothschild é um exemplo das várias maneiras que se podem usar para dar a conhecer os nossos produtos de luxo.

Paralelamente, o País tem vindo a posicionar-se como destino premium, privilegiado para consumidores e investidores de luxo. A localização estratégica, as paisagens e praias, o património cultural e gastronómico, onde a tradição e a contemporaneidade se conjugam em harmonia, tem granjeado a Portugal lugares cimeiros nos rankings mundiais de melhores destinos turísticos.

Em suma, através da internacionalização da indústria do luxo, Portugal pode promover a sua imagem como um país sofisticado, criativo e inovador. A internacionalização da indústria do luxo em Portugal representa, assim, uma oportunidade única para o País consolidar a sua presença no mercado global e impulsionar o seu desenvolvimento económico.

Bernardo Ivo Cruz, Secretário de Estado da Internacionalização 
In Revista BOW 28 - A Indústria do Luxo e a Internacionalização

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