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Mais difícil colocar o pé a fundo no acelerador…
A opinião de Luís Miguel Ribeiro no Dinheiro Vivo


Na sua mais recente coluna de opinião no Dinheiro Vivo, o presidente do CA da AEP, Luís Miguel Ribeiro, analisa os efeitos da estagnação da economia portuguesa no 2.º trimestre, sublinhando a necessidade de serem disponibilizados instrumentos de financiamento que permitam reforçar o apoio à tesouraria das empresas.

"Em virtude da ausência de linhas de crédito com a intervenção do Banco Português de Fomento, que permita fazer face às necessidades de tesouraria das empresas, será bem mais difícil ao nosso tecido empresarial colocar o pé a fundo no acelerador", sublinha.

Leia a coluna:


Pé a fundo no acelerador…

Tudo se confirmou quanto ao comportamento da economia portuguesa no segundo trimestre do ano: a sua estagnação face ao primeiro trimestre e o seu abrandamento face ao mesmo período de 2022. Em termos homólogos, o arrefecimento da economia é uma tendência que já se arrasta desde o segundo trimestre do ano passado.

Por outro lado, confirmaram-se igualmente as causas para esta evolução: fundamentalmente, o contributo menos favorável da procura externa líquida - em consequência da evolução das exportações -, que foi mesmo negativo na evolução em cadeia.

Se efetuarmos o cálculo para o primeiro semestre, a economia portuguesa cresceu 2,4%, o que quer dizer que para alcançar as projeções para o cômputo do ano (2,7%, segundo as previsões de junho do Banco de Portugal), a atividade económica terá de acelerar na segunda metade do ano, numa ordem de grandeza de, pelo menos, 3%.

Será isso possível? Sabemos que permanecem muitas incertezas e muitos riscos no contexto internacional, o que numa economia aberta ao exterior, como é a portuguesa, tem sempre um impacto muito significativo. Na procura interna, a manutenção de taxas de juro elevadas continuará a impactar negativamente quer no consumo quer no investimento.

Para a dinâmica do investimento muito contribuirá a célere execução dos fundos europeus, designadamente do Portugal 2030, numa altura em que se encontram ainda em apreciação os regulamentos específicos em áreas temáticas fundamentais e que poderão ser dirigidas às empresas, nomeadamente o Regulamento Específico da Inovação e Transição Digital e o Regulamento Específico da Demografia, Qualificações e Inclusão.

Face aos severos condicionalismos que as empresas estão a sentir (contração da procura no mercado externo, entre outros), é crítica a disponibilidade de instrumentos de financiamento, com o envolvimento do Banco Português de Fomento, que permitam reforçar o apoio à tesouraria das empresas. Porém, soubemos esta semana que o Governo decidiu que não vai pedir mais empréstimos para financiar o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Em virtude da ausência de linhas de crédito com a intervenção do Banco Português de Fomento, que permita fazer face às necessidades de tesouraria das empresas, será bem mais difícil ao nosso tecido empresarial colocar o pé a fundo no acelerador.

Luís Miguel Ribeiro, presidente do Conselho de Administração
da Associação Empresarial de Portugal
In Dinheiro Vivo 02.09.2023