Notícias

Logística é cada vez mais uma atividade estratégica
Um artigo de Nuno Rangel na revista BOW 27

Logística, Cadeia de Abastecimento, E-commerce e Internacionalização 

Os últimos anos levaram-nos a ter uma reflexão diferente sobre a área da logística. Podemos dizer que hoje é cada vez mais encarada, não como uma atividade operacional e um centro de custos, mas sim como uma atividade estratégica, que tem de ser resiliente, versátil e flexível. Estas conclusões advêm, principalmente, do grande impacto que as cadeias de abastecimento sofreram, quer durante a pandemia, quer, atualmente, com a guerra na Ucrânia.

Sem dúvida, que o setor da logística foi um dos que mais vivenciou os impactos diretos das restrições provocadas pela pandemia. No início, com a paragem da aviação comercial, a redução e paragem de várias indústrias, ou até mesmo a alteração de comportamentos de consumo, por parte dos consumidores, levaram a uma grande oscilação e desequilíbrio no transporte marítimo. Estes fatores provocaram uma diminuição da oferta, neste tipo de transporte, o que despoletou uma acentuada escalada nos custos. No entanto, apesar deste cenário ter representado um grande desafio para o setor, acabou por conduzir a uma reflexão e mudança de visão do mesmo.

Muitos países e empresas passaram a refletir de uma lógica de just-in-time para uma just-in-case, diversificando as suas fontes de abastecimento e repensando a reindustrialização de proximidade. Por exemplo, certos negócios deixaram de fazer sentido, devido às dificuldades de produção e forte dependência que tinham com a Ásia e também pelo aumento do custo do transporte, o que levou a um aumento exponencial de custo do produto. O mesmo acontece a empresas que estão dependentes da produção na Rússia e na Ucrânia, o que leva a repensar todo o seu fornecimento, diversificando as localizações e reaproximando-o das suas indústrias, o que levará à diminuição da distância das cadeias logísticas. A reindustrialização da Europa é um dos objetivos da UE. Diminuir a distância das cadeias logísticas, recentrando o fabrico, mas com produtos de valor acrescentado, que permitam absorver os custos de produção, que na Europa são muito elevados. Este é um dos pontos que estará em discussão nos próximos anos.

Durante a pandemia um dos grandes impactos que observámos na área da logística foi o crescimento do comércio eletrónico, que também impulsionou muito a transformação da visão empresarial sobre a logística. Se já se notava uma tendência de crescimento do e-commerce em Portugal antes desse período, esta situação veio acelerar este processo, tanto para consumidores como para empresas. Por exemplo, dados da ACEPI – Associação da Economia Digital Portugal, revelam que as compras online de 2021 registaram um aumento de mais de 25 mil milhões de euros em comparação com 2019, o que por consequência fez aumentar o número de compradores online em 7% nesses 2 anos.

O e-commerce veio para ficar. As empresas têm de estar no omnichannel e perceber a importância que o canal online já tem, assim como conhecer como o deverão operar logisticamente. A inovação, digitalização e novas tecnologias, nunca foram tão importantes para a logística. São desafios que nos obrigarão a repensar o futuro próximo, seja com soluções de robótica e automação, inteligência artificial, análise de dados, entre outros.

Relativamente a 2023, acreditamos que será novamente um ano de incerteza e insegurança, com a probabilidade forte de uma estagnação do crescimento em muitos países ou até recessão. Contudo, o caminho das empresas deverá ser o de potenciar o negócio para uma dimensão global, seja através da internacionalização ou da exportação.

Em primeiro lugar, as empresas portuguesas devem apostar nas exportações, pois são essenciais quer para o seu sucesso, quer para o sucesso do nosso país, e um indicador que devemos seguir de perto é o peso das exportações no PIB nacional. Fazendo uma comparação entre o terceiro trimestre de 2022, onde as exportações portuguesas tiveram um peso no PIB de 51,8%, com há 16 anos atrás, em que apenas representavam 31%, podemos dizer que temos feito um caminho positivo, dando cada vez mais relevo às exportações nacionais. No entanto, devemos ser mais ambiciosos e colocar o peso das exportações no PIB nacional, com uma meta mínima de 60%. Após análise do impacto positivo das exportações, as empresas devem estudar a abertura de operações diretas noutros países, iniciando ou expandindo o seu processo de internacionalização, que muito ajudará a desenvolver o tecido empresarial português.

A internacionalização exige que a empresa reúna competências únicas, que a possibilitem diferenciar-se no mercado alvo, e uma vez que no mundo global a criação de valor é vista como essencial à sobrevivência, o papel da logística torna-se assim num elemento diferenciador e impulsionador desta estratégia de crescimento.

 
Nuno Rangel, CEO da Rangel Logistics Solutions
In Revista BOW, n.º 27 - Logística, Cadeia de Abastecimento, E-Commerce e Internacionalização

Descarregar o artigo