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Localização periférica transformada em vantagem
Um artigo de Isabel Caldeira Cardoso na revista BOW 27

Portugal, a sua posição ocidental e as oportunidades para a afirmação do setor da logística

Portugal tem uma localização periférica face às outras economias da Europa. Um facto que, à partida, parece um inconveniente, torna-se numa vantagem quando pensamos na sua posição Atlântica que confere ao país uma vocação logística na ligação das economias nacional, ibérica e europeia ao mundo.

Somos a Oeste uma porta aberta para o Atlântico, uma ponte transatlântica para as Américas e a Este um ponto de entrada privilegiado na UE, a partir do Médio e Extremo Oriente. A Norte temos ligações com rotas económicas estratégicas e a Sul asseguramos uma Plataforma estratégica para os mercados africanos e países de língua portuguesa. Portugal é uma porta para um mercado de 500 milhões de pessoas na Europa, e para 250 milhões de consumidores de língua portuguesa.

A Logística assume-se como um vetor de competitividade para as empresas portuguesas, quer na vertente da importação eficiente de fatores de produção, quer na ligação das exportações, de forma eficaz, com os mercados clientes, assumindo um papel fulcral na economia nacional.

Os portos devem a sua evolução ao resultado da sobreposição de quatro fatores: a geografia, as infraestruturas de transporte, as redes logísticas e a economia. Existe uma forte relação entre eles, sendo que a geografia é o de mais difícil “intervenção”. Desde logo, face à geografia, a economia e as redes de transporte e logísticas desenvolvem-se, adaptando-se e fortalecendo-se.

Nesta perspetiva, os portos de mar têm um papel de interface ao conectar as infraestruturas de transporte internas com as externas assumindo um papel chave na base das cadeias de valor globais, pois a sua eficiência, a sua conectividade e a sua produtividade têm implicações nas cadeias de produção, assemblagem, repartição da produção por geografias, beneficiando, globalmente, das vantagens de cada região.

No contexto atual, de invasão da Ucrânia pela Rússia, a questão da Logística da Energia tornou-se primordial. Portugal e a Península Ibérica podem ter um papel fundamental no abastecimento energético da Europa. A articulação de Portugal com um conjunto de países africanos que são fornecedores de energia, o facto do país ser a porta de entrada de produtos energéticos vindos do outro lado do Atlântico, como por exemplo o GNL dos EUA, e a existência de infraestruturas para acolhimento e exportação para a Europa, são vantagens competitivas para Portugal nesta vertente e daí todos os esforços, para ultrapassar os constrangimentos que dificultam o transporte do gás até França via gasoduto e, daí, para o resto da Europa.

A Portugal o gás natural chega principalmente por mar, em navios metaneiros, ao Porto de Sines, onde é armazenado no terminal de GNL da REN. Por terra, há apenas dois gasodutos: um que liga Campo Maior a Badajoz e outro que liga Valença do Minho a Tuy. Quanto à vizinha Espanha, o país está ligado ao gás natural produzido no norte de África por dois gasodutos através de Tarifa e Almeria (o MAGHREB-EUROPE GAS, que liga a Marrocos, e o MEDGAZ, que liga à Argélia). Na fronteira com França (País Basco e Navarra) há outros dois gasodutos: um entre Irun, do lado espanhol, e Biriatou, do lado francês; e um segundo em Larrau. Em 2022 bateu-se o record para as construtoras de navios, onde a Coreia do Sul tem liderança, no que diz respeito a contratos para navios metaneiros, o que mostra a aposta neste tipo de abastecimento.

Para além das oportunidades no setor energético, não esquecer as do setor Agro nomeadamente o papel que Portugal pode assumir nas importações de produtos agroalimentares da América do Sul. O Brasil, um dos principais exportadores de cereais, nomeadamente de soja e de fru-tas, é um alvo muito importante para reforçar o papel de Portugal no setor, como alternativa aos portos do Norte da Europa, com adição de valor, nomeadamente de embalamento, preparação de polpas, sumos, pesagem e etiquetagem, entre outras.

O Porto de Sines, a Zona de Atividade Logística de Sines Intra portuária e Extra portuária, esta última sob gestão da aicep Global Parques, trabalham ativamente para a criação de um hub logístico para a entrada de produtos agro brasileiros no mercado ibérico e europeu, apostando em:
  • Crescimento da escala: ampliação do terminal de contentores XXI e planeamento para um novo terminal de contentores “Vasco da Gama” em Sines;
  • Integração das cadeias de abastecimento: desenvolvimento Zona de Atividades Logísticas (ZALSINES) contígua ao Porto de Sines e aposta nas acessibilidades - Investimentos prioritários na ferrovia e na rodovia;
  • Digitalização da logística: Janela Única Logística -ferramenta de gestão dos fluxos de informação ao longo da cadeia logística, simplificando e desmaterializando as ações;
  • Aposta na qualificação de RH: Cooperação com Escolas Profissionais, contribuindo para manter e especializar a competência logística nos conteúdos programáticos;
  • Conectividade: O Porto de Sines tem ligações regulares diretas de carga em contentores aos principais mercados mundiais de produção e consumo, sendo o primeiro porto europeu nas rotas atlânticas.

Neste processo são fundamentais a atitude social positiva, a possibilidade de criação de sinergias entre promotores e a eficácia na criação de negócios vertentes, onde Portugal deve apostar na simplificação de procedimentos e na agilização dos processos de licenciamento.

Isabel Caldeira Cardoso, Vice-Presidente da aicep Global Parques
In Revista BOW, n.º 27 - Logística, Cadeia de Abastecimento, E-Commerce e Internacionalização

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