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Guerra coloca exportações em perigo
Envolvente Empresarial destaca previsões do FMI, mais pessimistas

A Envolvente Empresarial - Análise de Conjuntura relativa ao primeiro trimestre do ano - da responsabilidade conjunta AEP/AIP/CIP - inclui as recentes previsões do FMI, mostrando um crescimento do PIB em 2022 (4,0% em termos reais) abaixo do previsto pelo Banco de Portugal (BdP) e pelo Governo na Proposta do Orçamento de Estado (4,9% nos dois casos), que se afigura já desatualizada.

O FMI é ainda mais pessimista quanto à evolução das nossas exportações, prevendo uma subida de apenas 2,6% em volume face a valores de 13,1% do Governo e 14,2% do BdP. 

Apesar de tudo, como o crescimento das importações também é menor nos dados do FMI (1,3%, face a 11,1% na previsão do BdP e 12,3% na do Governo), o contributo das exportações líquidas para o crescimento do PIB acaba por ser semelhante nos três casos (cerca de 0,5 pontos percentuais), significando que a diferença face às previsões de crescimento económico das entidades nacionais traduz o menor otimismo do FMI quanto ao contributo da procura interna (consumo e investimento).

Por outro lado, o crescimento das exportações abaixo do PIB, em termos reais, nos dados do FMI penaliza a intensidade exportadora em volume. A intensidade exportadora a preços correntes tinha acabado de superar o nível pré-pandemia no 4º trimestre (46,5%), atingindo mesmo o máximo da série (iniciada em 1995) como mostra este número da Envolvente. 

De sublinhar que a evolução da intensidade exportadora a preços correntes dependerá ainda da capacidade dos nossos exportadores em elevar os preços de venda, não apenas para repassar os recentes acréscimos de custos, mas também para aumentar de forma estrutural as margens de venda pela diferenciação da oferta, o que requer uma aposta no investimento em fatores dinâmicos de competitividade, como a inovação, o design e o marketing − potenciando também um aumento do volume exportado (bens e serviços) −, que os fundos europeus devem estimular e financiar.

As disparidades na dinâmica prevista das exportações em volume, que persistem em 2023, parecem radicar numa menor subida da procura externa relevante de Portugal nos números do FMI – não está disponível essa estatística, mas a previsão de crescimento de 2,9% para a Área Euro, que concentra uma fatia muito elevada das nossas exportações, compara com 3,7% nas hipóteses das previsões do Governo e BdP –, mas também numa evolução muito menos otimista das quotas de mercado das nossas exportações de bens e serviços face à projetada pelas duas entidades nacionais.

Nas projeções do Banco de Portugal e do Governo está subjacente um acentuado ganho de quota de mercado – diferença entre a evolução das exportações (13,1% e 14,2%, respetivamente) e da procura externa relevante (5,8% nos dois casos) –, que não existe nos números do FMI (dado o reduzido crescimento previsto das exportações) e destoa da evolução recente.

Usando dados do Governo (elementos informativos e complementares do relatório da segunda Proposta de Orçamento de Estado para 2022), em 2020 houve uma forte perda de quota (-8%, em resultado de variações de -18,6% nas exportações e -11,2% na procura externa relevante, em termos reais) e a recuperação em 2021 foi apenas parcial (3%, face a variações de 13,1% nas exportações e 10,0% na procura externa relevante), observando-se uma perda acumulada de quota nos mercados atuais de -6% entre 2019 e 2021.

Acresce que a quota no mercado mundial (mercados atuais mais potenciais) de bens recuou não apenas em 2020 (-1%, para 0,344%, após 0,347% em 2019, o máximo numa década) mas também em 2021 (-3%, para 0,333%)  e, no caso dos serviços comerciais, já se tinha registado uma queda em 2019 (-2%, para 0,672%), que se acentuou fortemente em 2020 (-18%, para 0,551%, o mínimo da série, iniciada em 2005) devido à pandemia, segundo cálculos com base nos dados anuais disponíveis da OMC e que estão inseridos neste número da Envolvente Empresarial. 

A procura externa poderá piorar ainda mais se houver uma maior escalada de sanções à Rússia, com o FMI a estimar uma redução do nível do PIB da UE em 2023 em 3% face ao cenário base nessa situação.

A AEP lembra que o aumento das exportações e da intensidade exportadora é crucial para o aumento sustentado do nosso desenvolvimento e nível de vida, reiterando a necessidade imperiosa de apoiar as empresas neste momento difícil, nomeadamente através das várias propostas que tem dirigido ao Governo. [Veja outros aspetos destacados pela AEP]

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