Notícias

Grande incerteza e enormes desafios…
A opinião de Luís Miguel Ribeiro no Diário de Notícias

"Perante um cenário internacional fortemente adverso, que os empresários não podem controlar, importa minimizar o risco nos negócios, pela via da diversificação dos mercados, da inovação e diferenciação dos produtos e da adaptação, nem sempre fácil, a um perfil de consumidores com distintos padrões de consumo e de valores".

Em coluna de opinião publicada no Diário de Notícias, o presidente do CA da AEP, Luís Miguel Ribeiro, escreve sobre a "grande incerteza e enormes desafios" que os empresários enfrentam e que requerem políticas públicas flexíveis e estimuladoras da atividade empresarial privada.

Leia a coluna na íntegra:


Grande incerteza e enormes desafios…

Os números do comércio internacional de bens mostram que no mês de junho Portugal melhorou o seu défice comercial, embora não tenha sido pelo ambicionado aumento das exportações. Tal evolução ficou a dever-se a uma mais forte redução, em termos nominais, das importações do que das exportações (-6,4% e -3,8%, respetivamente, em termos homólogos).

No cômputo do 1.º semestre a queda das exportações foi de 0,9% e das importações de 2,5%, uma evolução contrária à ocorrida em igual período de 2023 (+3,7% e +1,0%, respetivamente).

São muitos os setores com um recuo das suas vendas no mercado internacional, como os têxteis e vestuário, o calçado, o mobiliário, a metalomecânica, entre outros. A redução materializou-se em vários dos principais parceiros comerciais europeus, mas também noutros mercados extra-União Europeia, consequência da desaceleração da procura externa, associada ao período de enorme instabilidade e à incerteza a nível global, que se acentuará perante um escalar dos conflitos geopolíticos.

O agravamento do preço dos fretes marítimos no transporte internacional de mercadorias faz recuar a nossa memória à sucessão de choques já anteriormente vividos, no contexto da pandemia por covid-19 e da guerra na Ucrânia.

Perante um cenário internacional fortemente adverso, que os empresários não podem controlar, importa minimizar o risco nos negócios, pela via da diversificação dos mercados, da inovação e diferenciação dos produtos e da adaptação, nem sempre fácil, a um perfil de consumidores com distintos padrões de consumo e de valores. Olhemos para o exemplo do segmento mais jovem. Hoje, a multiplicidade e uso de plataformas digitais de venda de roupa usada, sobretudo por parte desta camada da sociedade, impacta no volume de encomendas e, consequentemente, na produção e venda de novas peças de vestuário. No calçado, os mais jovens tendem a valorizar outras categorias que não o calçado mais convencional.

Um olhar atento à evolução do Índice de Preços no Consumidor (IPC) permite precisamente constatar a influência desta tendência da procura. Nas classes com contribuições mais negativas para a variação do IPC estão o vestuário e o calçado, enquanto os voos internacionais surgem com as maiores contribuições positivas. Há claramente um trade-off na decisão de compra entre estes bens e serviços!

São, pois, enormes os desafios que os empresários enfrentam. As políticas públicas devem ser flexíveis e estimuladoras da atividade empresarial privada, ao invés de rígidas, como continuamos a verificar com algumas medidas de promoção do emprego.

Luís Miguel Ribeiro, presidente do Conselho de Administração
da Associação Empresarial de Portugal
In Diário de Notícias 20.08.2024