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Consumo e investimento já em retração
Sinais claros de um 2.º trimestre menos favorável na Envolvente Empresarial de maio

A Envolvente Empresarial de maio - da responsabilidade conjunta AEP/AIP/CIP -  evidencia a continuação de um andamento positivo da generalidade dos indicadores de atividade, mas há sinais claros de que o 2º trimestre será menos favorável, devido ao aumento da inflação e à retração da confiança, que já estarão a retrair o consumo − a rubrica com maior peso no PIB e que mais contribuiu para a subida no 1º trimestre – e o investimento, ainda que a nova dinâmica do turismo possa amortecer um pouco o choque negativo.

Os dados detalhados das contas nacionais recentemente divulgados mostram que o consumo privado aumentou 12,6% em variação homóloga (5,4% no trimestre anterior) e 2,1% em cadeia (1,1% no trimestre anterior), em termos reais, impulsionado pelo “levantamento da generalidade das restrições à atividade económica impostas no contexto da pandemia”, como refere o INE. No caso do investimento (FBC), as subidas foram de 5,4% em termos homólogos e 3,0% em cadeia.

A evolução do consumo privado, que representa cerca de 65% do PIB (em volume), explicou 69% do aumento homólogo deste indicador de atividade no trimestre (8,2 pontos percentuais, p.p., da subida de 11,9% do PIB, que foi empolada por um efeito de base, devido às fortes restrições associadas à pandemia no trimestre homólogo) e 54% do aumento em cadeia (1,4 p.p. do aumento de 2,6% do PIB), enquanto o investimento (FBC) contribuiu com 9% (1,1 p.p.) e 22% (0,6 p.p.), respetivamente.

O contributo das exportações líquidas de importações foi de 15% (1,7 p.p.) em termos homólogos e 17% em cadeia (0,4 p.p.), com a subida do excedente da balança de serviços, impulsionado pela forte recuperação das exportações de turismo (subida de 206,7% em termos homólogos, segundo o INE, não havendo dados para a variação em cadeia), a ser contrariada pelo agravamento do défice da balança de bens a preços constantes (com a subida do volume de importações a ultrapassar o aumento das exportações), em ambas as comparações (homóloga e em cadeia).

Os dados mais recentes mostram que o consumo caiu em abril (recuo do índice de volume de negócios do comércio a retalho de -3,0% face a março e -0,5% face à média do 1º trimestre, considerando dados deflacionados e corrigidos de sazonalidade e efeitos de calendário) e que o investimento já estava em forte abrandamento homólogo no mês de março (variação de 0,2% no indicador de FBCF do INE, após 7,2% e 9,4% nos dois meses anteriores), podendo mesmo ter recuado em cadeia.

As perspetivas para os próximos meses não são animadoras, face ao prolongamento do conflito na Ucrânia. O indicador de confiança dos consumidores melhorou ligeiramente em maio, mas a tendência é ainda de descida acentuada, com a média móvel de três meses a atingir o valor mais baixo desde junho de 2020, ainda nos primeiros meses da pandemia. Para tal contribui a perspetiva dos consumidores quanto à evolução dos preços nos próximos 12 meses do inquérito do INE, que atingiu o máximo da série (iniciada em set-97). Os últimos dados corroboram essas perspetivas, pois a taxa de inflação atingiu 8% em maio, o valor mais alto desde fevereiro de 1993, segundo INE.

No caso das empresas, os indicadores de confiança (média móvel de três meses) também atingiram mínimos de vários meses em maio, na maioria dos casos (13 meses na indústria transformadora, 12 na construção e obras públicas e oito no comércio), com exceção dos serviços (onde se insere o turismo), que registaram um máximo desde julho de 2001, a refletir o maior otimismo após o levantamento das principais restrições no contexto da pandemia.

Os dados acima analisados são compatíveis com a perspetiva de queda em cadeia do PIB nacional no 2º trimestre (-1,5%) inserida nas previsões de Primavera da Comissão Europeia, divulgados em maio.

Do Governo esperam-se medidas de aceleração do investimento, executando os fundos europeus (aceleração do PRR, com a janela mais curta, e início do PT 2030), e de apoio mais efetivo às empresas afetadas pela subida dos custos de produção, tendo em vista evitar encerramentos e mitigar a subida da inflação, que tanto penaliza o poder de compra das famílias e a evolução do consumo.

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