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A terceira guerra
A opinião de Luís Miguel Ribeiro no Dinheiro Vivo

O presidente do CA da AEP dedica a sua mais recente coluna de opinião no Dinheiro Vivo à "terceira guerra", de natureza comercial, desencadeada com a tomada de posse e medidas anunciadas pela administração Trump, nos EUA, "após a 'guerra sanitária', com a pandemia, e a 'guerra militar', que persiste com o conflito armado na Ucrânia e no Médio Oriente".

Luís Miguel Ribeiro considera que "são choques sucessivos, que colocam ao tecido empresarial sérios desafios nos seus custos operacionais e financeiros, na rentabilidade e, porventura, na sustentabilidade do seu negócio" e defende que "o reforço da estratégia de diversificação de mercados é uma prioridade para o país". 

Leia a coluna na íntegra:


A terceira guerra

À medida que os dias passam, tenho cada vez mais a convicção de que as empresas enfrentam, desde o início de 2020, um terceiro choque – diria a “terceira guerra” (agora, de natureza comercial), após a “guerra sanitária”, com a pandemia, e a “guerra militar”, que persiste com o conflito armado na Ucrânia e no Médio Oriente.

São choques sucessivos, que colocam ao tecido empresarial sérios desafios nos seus custos operacionais e financeiros, na rentabilidade e, porventura, na sustentabilidade do seu negócio.

Os indicadores macroeconómicos ainda não estarão a refletir a dureza dos impactos. 

O mercado de trabalho mantém-se resiliente, com o emprego a registar o máximo das duas últimas décadas.

No crescimento económico, Portugal registou no último trimestre de 2024 uma aceleração significativa, o que mais cresceu em cadeia e o terceiro maior na variação homóloga, em 13 países com dados. Uma análise atenta às bases em que assentou a dinâmica do PIB português, percebe-se que foi muito influenciado por uma medida
one-off, com impacto no rendimento disponível das famílias, conduzindo a uma aceleração do consumo. Trata-se da redução da carga fiscal em setembro e outubro, face ao ajustamento do excesso de retenções na fonte de IRS nos oito primeiros meses do ano. Na melhoria do rendimento disponível estará, ainda, a diminuição das taxas de juro, face à menor restritividade da política monetária do Banco Central Europeu.

No contexto geopolítico adverso, em particular o europeu, a recessão/estagnação económica é apontada como o segundo principal risco para a economia portuguesa, a seguir à escassez de mão-de-obra e talento.

Reafirmo, o crescimento da nossa economia tem necessariamente de assentar em bases sólidas, pelo reforço do peso das componentes exportações e investimento no PIB.

Apesar do aumento das exportações em 2024, é preocupante a diminuição registada em vários setores. Por mercados, o maior acréscimo ocorreu no bloco da União Europeia, com um crescimento económico medíocre. Um único mercado contribuiu para três quartos do aumento global das exportações – a Alemanha, que subiu para a segunda posição no ranking dos destinos. É um mercado importante, mas enfrenta uma recessão. Há riscos no principal mercado fora da Europa e com quem Portugal apresenta o maior excedente comercial: os Estados Unidos.

O reforço da estratégia de diversificação de mercados é uma prioridade para o país.

Luís Miguel Ribeiro, presidente do Conselho de Administração
da Associação Empresarial de Portugal
In Dinheiro Vivo 14.02.2025