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A logística como peça-chave do negócio
Susana Sanchez, diretora-geral da Parfois, em entrevista à BOW 27

A diretora-geral da Parfois, é a entrevistada ao número 27 da revista BOW, dedicada aos temas temas “Logística, Cadeia de Abastecimento, E-commerce e Internacionalização”

Susana Sanchez fala sobre a importância da logística na empresa que está presente em cerca de 70 países com lojas físicas, que consolidou o seu negócio num "modelo de distribuição assente num elevado controlo de gestão de stocks para sermos a cada dia mais eficiente". A logística é uma das peças-chave da empresa que, além da Europa, desenvolve operações na Arábia Saudita, Israel, Egipto, México, Turquia, entre outros mercados com uma elevada componente de complexidade de importação.

Presente em cerca de 70 países com lojas físicas, a Parfois faz assentar o seu negócio numa forte vertente logística. Quais os elementos críticos para uma atividade bem-sucedida como é a da Parfois?

Sendo a Parfois uma empresa com um elevado volume de negócios, é lógico que o pilar logístico seja uma das peças-chave, contudo, gostaríamos de destacar que não se trata apenas disto, mas sim da consolidação de um modelo de distribuição assente num elevado controlo de gestão de stocks para sermos a cada dia mais eficientes. Sem a componente de logística ligada à cadeia de abastecimento, o controlo eficiente dos centros logísticos e um modelo de distribuição com base na procura, seria impossível dar resposta à complexidade extracomunitária onde a Parfois tem inúmeras operações.

Hoje em dia, as barreiras à importação em países fora da UE são cada vez maiores e é aqui que o cumprimento do nível de serviço para cumprir os leadtimes da empresa é fundamental. Dada a sua trajetória e expertise, a Parfois tem hoje um bom conhecimento dos requisitos de importação em diferentes países, por mais específicos que sejam. Além disso, a integração com os operadores logísticos e o elevado grau de maturidade da sua cadeia de abastecimento, permite-lhe estar presente em 68 mercados ultrapassando todas as barreiras e conseguindo vender um conceito baseado na procura e numa rotação elevada.


Sendo o mercado espanhol o mais importante, onde a Parfois detém mais de 360 lojas, como é feita essa gestão logística, relativamente a fornecedores e a clientes, atendendo aos imperativos da rapidez e da rentabilidade? 

A Parfois trabalhou nos últimos anos na implementação de um modelo de transporte dedicado até ao hub intermédio em que combina o volume com a eficiência da logística de última milha. É um modelo que permitiu poupanças de custo significativas e uma elevada capilaridade com entregas em todos os pontos de Espanha em 24h ou 36h.

Existe o cuidado desses fornecedores serem próximos dos mercados onde a Parfois detém as suas lojas, que vão, entre outros, desde a Arábia Saudita, Israel, México ou Turquia, para assim se obter a rentabilidade desejada?

Atualmente, a Parfois conta com operações na Arábia Saudita, Israel, Egipto, México, Turquia, entre outros mercados com uma elevada componente de complexidade de importação. Os requisitos de entrada nestes mercados são exigentes, mas trabalhamos em conjunto com os fornecedores de produto para o cumprimento de todos eles desde a origem (testes, certificações, "trackeabilidade", composições, materiais, etc), para que isto não seja um impedimento para a importação. Este nível de complexidade requer um elevado nível de expertise que se alcançou nos últimos anos, resultado da aprendizagem e funcionamento que pode variar a cada dia, resultado das novas legislações. É por isso que temos que ser flexíveis, reativos e adaptáveis. O mundo muda de forma constante e as empresas (e com maior impacto as empresas de serviços logísticos) têm que estar ao serviço da procura.

De facto, hoje em dia o grau de especialização da Parfois, neste âmbito, está à altura dos grandes operadores mundiais como a Inditex, H&M, Mango, etc. Também aqui é muito importante o contributo de todos os nossos franchisados e parceiros locais, que com o seu conhecimento de mercado acrescentam o know-how necessário para unir com os pontos fortes do nosso negócio desde a origem, e para assim reduzir prazos.


A APLOG – Associação Portuguesa de Logística identifica como um dos grandes desafios “a agitação política, a escassez de matérias-primas e o aumento dos custos de energia, que poderão levar a alguns atrasos e disrupções, até ao final do ano e, potencialmente, até ao verão de 2023”. Este é um cenário que a Parfois tem em atenção no seu negócio?

Viveram-se tempos turbulentos em toda a cadeia de abastecimento desde o Covid. Para efeitos de recuperação dos stocks, demorou-se muito tempo na adequação aos níveis de procura atuais. Para além desta rutura, somou-se uma recuperação das operações logísticas com um custo elevado, uma alta procura de espaço marítimo e aéreo sem recuperação total do tráfego, custos energéticos elevados e a desestabilização geopolítica.

Esta curva de declive elevado (de altos e baixos) parece estar agora a estabilizar devido a uma série de fatores:
  1. Total recuperação dos níveis de stock atuais a nível mundial (com exceção dos cereais e produtos de origem ucraniana);
  2. Incorporação de novos navios na frota global (esperam-se inclusive paragens ociosas derivadas dos novos serviços marítimos);
  3. A abertura da China no início de janeiro, que possibilitou a retoma de operações canceladas;
  4. Algumas quedas nos custos de energia ainda por consolidar.

A nossa previsão é que os custos logísticos que derivam da circulação de mercadorias estabilizem em custos mais baixos do que os do ano de 2021 e do início de 2022. Contudo, o mundo e a geopolítica estão em constante mutação e isto obriga-nos a preparar sempre planos de contingência para novas eventualidades.

Graças à tecnologia, muitas organizações estão a substituir os canais físicos pelo comércio eletrónico para a gestão de encomendas. Em que ponto está a Parfois, relativamente ao e-commerce e respetiva logística?

A Parfois está a fazer progressos significativos neste sentido. É dada prioridade máxima a todos os projetos relacionados com a possibilidade de encurtar prazos de entrega ao cliente de um produto adquirido digitalmente, e projetos para reduzir custos logísticos e de melhoria na proposta de valor do catálogo omnichannel. Na empresa (sobretudo depois da pandemia) sabemos como é importante para o cliente ter as múltiplas alternativas de serviço e de produto que a tecnologia permite, e queremos estar à altura desta expectativa. Temos uma ampla rede de lojas e isto permite-nos uma capilaridade, que combinada com o canal digital, é potenciadora de vendas. Estamos a desenvolver a um bom ritmo a estratégia de fullfilment em lojas com diferentes modalidades, tanto em mercados próximos (Portugal) como noutras zonas da UE (França, Polónia, etc.). As nossas equipas de loja estão também a transformar-se nas melhores embaixadoras destes projetos, onde a Tecnologia + Logística é um fator chave para o sucesso.

Em relação ao serviço, a resposta rápida, eficiente e próxima do cliente será a vencedora e a distribuição eficiente do stock é uma peça-chave. Trabalhamos para a construção do stock de forma reativa com serviços dedicados, onde as expectativas do cliente são totalmente superadas.


Apesar das circunstâncias vividas recentemente, como as causadas pela pandemia, a guerra da Ucrânia, a subida dos preços da energia ou a greve de uma parte das transportadoras, o abastecimento tem-se mantido. A Parfois sentiu a sua atividade afetada e de que modo enfrenta as situações que ainda perduram? 

É evidente que todos sofremos com a Covid-19 em termos de rutura das cadeias de abastecimento. Algumas com maior ou menor grau. Felizmente para a Parfois, em resultado da excelente relação de confiança e do negócio que construímos com os nossos fornecedores, este impacto foi menor. E gostaríamos de salientar que não só os nossos fornecedores de produto, mas também de serviços. É por isso que o binómio de produto acabado + prazo de entregas é vital. Tanto os fabricantes como as empresas de logística estiveram bastante ativos na adaptação ao nosso plano de contingência em pandemia. Hoje, felizmente, conseguimos superar a situação com êxito.

A guerra na Ucrânia teve um impacto global, mas a cadeia de abastecimento da Parfois não foi afetada em grande medida. Aprendemos com a pandemia a gerir planos de contingência e a replanificar produções e timings em todos os sentidos. É o lado positivo de ter sofrido uma crise, sais mais forte.

Prevemos que a situação continue a melhorar, contudo, alcançar os níveis pré-pandémicos em termos de custos será quase impossível, ainda que num mundo em constante mudança, qualquer movimento geopolítico nos obrigue a alterar em segundos o plano inicialmente delineado. Estamos melhor preparados para isto, ainda que nunca seja suficiente.


Descarregue aqui a entrevista

Bio da Parfois
Parfois é uma marca de acessórios de moda criada em Portugal em 1994 por Manuela Medeiros. Atualmente, está presente em cerca de 70 países. Em 2022, consolidou a sua presença com mais de 75 aberturas em mercados como a Arábia Saudita, Israel, México ou Turquia.
A estratégia omnicanal da marca avança com força, assim como o lançamento de novos mercados online apoiados na rede de lojas físicas.
Na agenda da marca para 2023, destaca-se o projeto Be Earth, um programa de sustentabilidade que pretende reduzir a pegada ambiental e aumentar um impacto socialmente positivo, responsável e transparente.