Envolvente Empresarial - Análise da Conjuntura é uma publicação trimestral desenvolvida conjuntamente pela AEP, AIP e CIP, com informação detalhada da evolução da atividade económica e de outros indicadores, incluindo ainda uma seleção de aspetos relevantes do enquadramento nacional e internacional.
Previsões do FMI para 2020 apontam quebra real de 8% do PIB e subida da taxa de desemprego para 13,9% – evolução apenas parcialmente revertida em 2021 –, em consequência da pandemia por COVID-19. São números mais pessimistas que os do Banco de Portugal no cenário mais adverso (-5,7% do PIB; taxa de desemprego 11,7%). Nas contas públicas, as projeções do FMI apontam para um défice de 7,1% do PIB em 2020 – após um excedente de 0,2% do PIB em 2019, o primeiro em Democracia – e um agravamento do rácio da dívida para 135,9% (após 117,6% em 2019), devido à crise económica provocada pela pandemia e à resposta de emergência do Governo.
Antes da pandemia, o PIB cresceu 2,2% em 2019 – em abrandamento face ao crescimento revisto de 2,6% em 2018, devido ao menor contributo positivo da procura interna e a um contributo mais negativo das exportações líquidas.
Matriz Input-Output do INE permite simular um impacto negativo de 2,9% no PIB por cada 25% de contração no turismo, um dos setores mais afetados pela pandemia.
Taxa de crescimento das exportações inferior à das importações em 2019, tanto nos bens como nos serviços, determinando um agravamento do défice comercial nos bens e um forte abrandamento do excedente nos serviços, resultando numa diminuição do excedente da balança de bens e serviços (BBS).
Quota de mercado das exportações nacionais nas importações mundiais em 2019 subiu para 0,349% nos bens (o máximo desde 2017) – com subidas em 13 dos 20 maiores mercados, contrariando o recuo nos demais, sobretudo em Angola, onde se continuou a registar, de longe, a quota mais alta –, mas diminuiu para 0,66% nos serviços comerciais, após um máximo de vários anos em 2018 (0,69%).
Redução significativa do excedente externo em 2019 (para 0,9% do PIB), a refletir a evolução desfavorável na Balança Corrente, que após seis anos de excedente registou um défice (-0,1% do PIB), para o que contribuiu a referida redução do saldo positivo da BBS e o agravamento do défice da balança de rendimentos primários.
Melhoria da posição de investimento internacional em 2019 (o saldo dos ativos e dos passivos sobre o exterior) em percentagem do PIB (para um valor de -101,2%), pelo quinto ano consecutivo.
Descida da taxa desemprego para 6,5% em 2019 (o mínimo da série, iniciada em 2011), embora já com uma subida significativa em cadeia no quarto trimestre (0,6 p.p., para 6,7%), a mais forte desde o 1º trimestre de 2013, e uma interrupção da queda homóloga (pela primeira vez desde 2013, quando se iniciou), que persistiu nos dados mensais até fevereiro, evidenciando que o mercado de trabalho já estava em inversão (da situação de virtual pleno emprego) antes da crise pandémica se instalar, prevendo-se um aumento muito acentuado do desemprego este ano, no contexto da pandemia.
Ao nível das matérias-primas, registou-se uma queda acentuada dos índices de energia e metais de base em março, a refletir a forte contração da procura no contexto da pandemia.
Recuperação da competitividade-custo, em 2019, após três anos em perda, traduzindo a depreciação nominal do euro e a melhoria dos custos laborais unitários relativos.
Criação líquida de empresas acelerou em 2019 – graças ao aumento dos nascimentos e à queda dos encerramentos (levando o rácio de nascimentos por encerramento a subir para 2,8, com um mínimo de 1,6 na Indústria e um máximo de 6,5 nos Transportes) –, mas em 2020 regista-se uma quebra nos dados até fevereiro em comparação homóloga, devido ao recuo dos nascimentos, superior em termos absolutos ao registado nos encerramentos.
Redução do número de empresas com processos de insolvência em 2019, mas com um aumento homólogo assinalável até fevereiro de 2020, já antes dos efeitos da crise pandémica.
Na sequência das medidas expansionistas do BCE em março, houve um recuo das taxas Euribor a 3 e 6 meses(mas com um aumento nos 12 meses, o que aponta para a perspetiva de reversão das medidas nesse horizonte) e das yields soberanas dos países mais endividados do euro, incluindo Portugal.
Sabe-se já que algumas agências internacionais de rating reviram a perspetiva de Portugal de “positiva” para “estável”.
Descida das taxas de juro a sociedades não financeiras até 1 M€ em 2019 (para 2,59%) e até fevereiro de 2020, atingindo nesse mês um valor de 2,42% (o mínimo da série, iniciada em 2000), ainda o 11º mais alto da Área Euro.
Recuperação modesta do stock de crédito total concedido às Sociedades não financeiras privadas em 2019 (0,7%), mas em abrandamento desde setembro. Evolução mais favorável dos empréstimos a MPME em 2019, sobretudo às microempresas, mas com um agravamento da queda nas sociedades privadas exportadoras, que se atenuou em janeiro de 2020.
Medidas de emergência económica e social em Portugal centradas na proteção social dos trabalhadores e famílias, lay-off simplificado, linhas de crédito às empresas, moratórias de crédito bancário e adiamento de pagamento de impostos e contribuições sociais.
NO PLANO INTERNACIONAL
Queda de 3% do PIB mundial em 2020 prevista pelo FMI, devido ao "Grande Confinamento" provocado pela pandemia, supera a recessãona crise financeira internacional de 2008/09, sendo a Área Euro particularmente afetada, com a Itália e a Espanha a registarem as maiores perdas de produto, que também são elevadas na França e Alemanha.
Reserva Federal e BCE anunciam programas de compra de dívida pública e privada de grande dimensão (no caso do BCE, com flexibilidade de limites por país, para evitar a subida das yields soberanas dos Estados mais endividados do euro) e apoios ao crédito a empresas e famílias.
Pacote económico de emergência da Administração Trump maior e mais rápido que o das instituições europeias, complementar aos programas nacionais, de diferentes dimensões consoante a capacidade de endividamento dos Estados.