Notícias

Desenvolvimento económico, 50 anos depois
A opinião de Luís Miguel Ribeiro no Dinheiro Vivo

Por ocasião do 50.º aniversário do 25 de Abril, o presidente do CA da AEP dedica o seu artigo de opinião no Dinheiro Vivo à análise do desenvolvimento económico do país nestes 50 anos.

De acordo com Luís Miguel Ribeiro, "num exercício comparativo, encontramos diferenças substanciais entre os padrões de vida pré e pós 25 de Abril. Contudo, alguns indicadores mostram que a evolução não foi transversalmente positiva".

Leia o artigo na íntegra:

Desenvolvimento económico, 50 anos depois

O 50.º aniversário do 25 de Abril tem um significado especial ao assinalar meio século de democracia, ao longo do qual assistimos a grandes e positivas mudanças no país e na sociedade portuguesa.

A democracia permitiu viabilizar a posterior entrada na Comunidade Económica Europeia, hoje União Europeia. A integração no bloco económico europeu, ao assegurar a livre circulação de pessoas, de bens e serviços e de capitais, teve reflexos relevantes no nível de desenvolvimento do país. Num exercício comparativo, encontramos diferenças substanciais entre os padrões de vida pré e pós 25 de Abril. Contudo, alguns indicadores mostram que a evolução não foi transversalmente positiva. 

Começo pelas pessoas, com um ganho significativo no seu nível de educação. A queda considerável na taxa de mortalidade infantil (óbitos de crianças com menos de um ano por cada mil nascimentos), de 37,9 para 2,6, retrata a grande conquista na melhoria das condições de saúde. Pelas implicações diretas no mercado de trabalho, é preocupante a subida do índice de envelhecimento: hoje temos 186 idosos por cada 100 jovens, face aos 35 em 1974. A quebra abrupta na relação entre a população que potencialmente está a entrar e a que está a sair do mercado de trabalho (o índice de renovação da população em idade ativa desceu de 162,8 para 75,2) significa que deixou de estar garantida essa renovação. Este desafio demográfico não é exclusivo de Portugal.

Na economia, o PIB per capita subiu, em termos reais, de 9,5 mil euros para 20,2 mil euros. Na qualidade e conectividade das infraestruturas rodoviárias, estamos hoje muito bem posicionados nos rankings internacionais de competitividade. A nossa estrutura produtiva adquiriu um cariz mais terciário, com uma queda do peso do setor primário e da indústria e uma subida dos serviços. Hoje, temos uma economia mais aberta ao exterior, o grau de abertura subiu de 52% para 94%, e o peso das exportações no PIB de 20% para cerca de 50%, ainda assim, distante da ambição de atingir, pelo menos, 60%. Em contrapartida, a descida do peso do investimento no PIB (de um terço para um quinto) não é positiva, tal como não é a manutenção do significativo peso da componente do consumo, acima de 60%, face à limitada dimensão do mercado nacional.

O balanço é claramente positivo, mas no detalhe das componentes do PIB são bem visíveis os problemas estruturais, que impedem um crescimento e desenvolvimento mais forte do país. Por exemplo, uma aposta na indústria é fundamental!

Luís Miguel Ribeiro, presidente do Conselho de Administração
da Associação Empresarial de Portugal
In Dinheiro Vivo 27.04.2024